O fim da greve dos professores da rede estadual encerra quatro meses da crise envolvendo o poder público e o funcionalismo do Paraná. O confronto político e institucional – que também se transformou em corporal na batalha do Centro Cívico, em 29 de abril – deixou um saldo que ainda terá de ser digerido. Mas houve derrotas na vitória. E vitórias na derrota. A hora é, portanto, de tirar lições da sucessão de erros na condução da crise.
O governo venceu ao conseguir embolsar R$ 125 milhões ao mês (R$ 1,5 bilhão ao ano) que antes destinava para a previdência do funcionalismo. Ganhou dinheiro. Melhorou o caixa do estado. Mas perdeu ao deixar evidente, para toda a população, que houve má gestão das finanças estaduais.
Os professores resistiram ao impulso autoritário que costuma tomar conta dos poderes constituídos
Ao colocar a Polícia Militar para impedir o protesto de professores e servidores estaduais, o governo também afrontou a democracia. O 29 de abril ficará marcado para sempre na história do governador Beto Richa pelos 213 feridos no confronto da Praça Nossa Senhora Salete. E pela insensibilidade de abrir um canal de diálogo e de negociação.
A consequência da postura do governador foi uma perda gigantesca de sua popularidade. Antes mesmo da batalha do Centro Cívico, mas já após a ocupação do plenário da Assembleia, Richa era desaprovado por 76% dos paranaenses, segundo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas divulgado pela Gazeta do Povo no início de março (desde então, não foram divulgadas novas sondagens para avaliar a aprovação do governador). Em dezembro, na pesquisa anterior, a desaprovação de Richa era de apenas 29%.
A PM também perdeu. Conseguiu conter-se e evitou o pior na ocupação do plenário da Assembleia pelos professores, na manifestação de fevereiro. Com isso, ganhou pontos. Mas a polícia ficará marcada mesmo pela truculência de 29 de abril.
A Assembleia baixou a cabeça para o governo e aceitou votar o projeto de lei da Paranaprevidência sem discussão com a sociedade. Submeteu-se à humilhação de recorrer a um camburão do batalhão de choque para transportar deputados governistas para dentro do Legislativo. Depois, foi absolutamente insensível ao prosseguir com uma sessão para aprovar o projeto da previdência mesmo com uma guerra campal ocorrendo na porta da Casa. Tentou corrigir-se ao aprovar o fim do “tratoraço” e ao intermediar um acordo entre professores em greve e o governo. Que fique a lição de que é preciso dialogar e representar os interesses da sociedade, mesmo quando isso implique se contrapor ao governo.
Já os professores saem feridos da crise. Voltam às aulas derrotados na intenção de evitar as mudanças na Paranaprevidência. Tiveram de se contentar com a reposição das perdas inflacionárias para só daqui a dois anos, proposta muito distante do que pleiteavam. Mas obtiveram uma vitória moral. Resistiram ao impulso autoritário que costuma tomar conta dos poderes constituídos. Que ensinem isso aos estudantes. Será uma compensação valiosa para um ano letivo que está comprometido.
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