“A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável.”
Grandes tragédias despertam grandes sentimentos. Desses que no dia a dia costumam ficar adormecidos. Deixados para trás na correria dos afazeres. Mas que emergem grandiosos diante da consciência da fragilidade da vida, da finitude inevitável. E então sobra o que realmente importa: a grandeza e a beleza do ser humano. O desastre da Chapecoense – suprema ironia – produziu, em meio à tristeza, alguns dos momentos mais belos de nossa história recente. E lições para aqueles que querem viver uma vida melhor.
1. Dividir para somar
Num mundo em que é imperativo somar, acumular, a mãe do goleiro Danilo, Ilaídes Padilha, foi gigante ao mostrar o valor de dividir. Se havia alguém que merecia receber todo o conforto do mundo em troca de nada, eram os parentes e amigos das vítimas. Mas ela encontrou forças para dar o que parecia não ter, para confortar quem também sentia a dor da perda. Foi tocante a cena em que dona Ilaídes interrompe uma entrevista ao vivo com o repórter Guido Nunes, que teve colegas mortos no acidente, para abraçá-lo e enxugar suas lágrimas. Assim, ela ensinou que dois corações partidos, ao se encontrarem, podem bater como um único.
2. Não julgar alguém que já pagou o preço pelo erro
Dona Ilaídes também demonstrou sua grandeza ao nadar contra a corrente. Enquanto o país condenava o piloto do avião, ela disse: “Não vou julgá-lo”. A justificativa: ele pagou com a vida pelo erro. De certa forma, sofreu a pior condenação possível pela negligência e ganância. E nada vai trazer os mortos de volta. Mas isso não significa que as responsabilidades dos vivos não tenham de ser apuradas.
O desastre da Chapecoense – suprema ironia – produziu, em meio à tristeza, alguns dos momentos mais belos de nossa história recente
3. Vencer não é tudo
O adversário da Chapecoense na final da Sul-Americana, o Atlético Nacional, não titubeou um único segundo em abrir mão da disputa para que o time brasileiro fosse declarado campeão. Vencer não é tudo na vida. Há derrotas em vitórias desonrosas. E há vitórias em determinadas derrotas. O Nacional perdeu o título. Ganhou o mundo.
4. Antes de brasileiros, colombianos ou seja lá o que for, somos humanos
Outra imagem emocionante foi a homenagem que os colombianos fizeram à Chape no estádio em que a final seria jogada, em Medellín: 40 mil torcedores lotaram as arquibancadas; outras dezenas de milhares ficaram nas ruas do entorno. A dor não tem nacionalidade. A solidariedade também. Isso se chama humanidade.
5. Diferenças podem ser superadas
Torcidas organizadas dos quatro principais times de São Paulo se reuniram para homenagear a Chapecoense em frente do estádio do Pacaembu. Torcedores adversários, que costumam sair nas notícias após brigas e até mortes, chegaram a se abraçar.
6. Regras servem para vivermos bem em sociedade; não devem ser uma camisa de força
Após marcar um gol pelo Vitesse, time que disputa o campeonato holandês, o brasileiro Nathan tirou a camisa para fazer uma homenagem à Chapecoense. Pelas regras da Fifa, teria de ser punido com cartão amarelo. O árbitro Jochem Kamphuis viu. Mas fez que não viu. “Decidi me virar e ir para o outro lado do campo. Foi um acontecimento tão terrível, e é tão especial para o jogador que marca um gol poder homenagear seus amigos. Acho que essa foi a melhor decisão que eu pude tomar”, disse. De vez em quando, temos de usar o bom senso na aplicação de regras.
***
A comoção pelo acidente da Chape vai diminuir. Mas ainda assim dá para se lembrar dessas lições. Sempre há tempo para tomarmos outro rumo. Viver com algum propósito menos mesquinho. Ou simplesmente não viver mecanicamente, tomado pela pequenez do cotidiano. Afinal, como bem advertiu José Saramago: “Nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida”.
Fim do ano legislativo dispara corrida por votação de urgências na Câmara
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Frases da Semana: “Alexandre de Moraes é um grande parceiro”
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Deixe sua opinião