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A humanidade sempre usou máscaras. Inicialmente, para propósitos religiosos e em rituais: afastar espíritos maus, incorporar características dos animais ou dos seres representados etc. Depois, elas assumiram função cênica, na dramaturgia da Grécia clássica. Ao longo do tempo, essas características foram se perdendo. Mas as máscaras sobrevivem no carnaval, que começa em poucos dias. Parece apenas uma brincadeira: o folião mascarado se transforma em algo que não é. Mas talvez seja o contrário – a máscara permite a ele ser aquilo que é de verdade. E isso pode ser válido tanto para as máscaras de fantasia como para as da vida real.

Afinal, ao cobrir o rosto, o folião dá vazão a um traço de personalidade que no dia a dia costuma esconder devido às regras sociais.

O mesmo ocorre com o black bloc que oculta a face. Com o assaltante encapuzado. E com o criminoso cibernético escondido atrás de uma tela de computador – o mascarado virtual. Eles não querem ser reconhecidos. Mas, ao ocultar a identidade, mostram o que são – ainda que sob anonimato.

Esse aparente paradoxo – de que a ocultação revela algo que não se vê – também se traduz numa das mitologias contemporâneas: o super-herói só mostra quem ele realmente é quando está com sua máscara.

O que vale, no fim, é o que se faz. O papel que cada um escolhe para si

Aliás, os termos “pessoa” e “personalidade” (aquilo que define o que se é) vêm do grego prosopon e do latim persona. Ambas as denominações, por sua vez, designavam a máscara que se usava no teatro da Grécia e de Roma antigas. Portanto, a personalidade é, etimologicamente, aquilo que se expressa no palco da vida.

Os antigos sabiam que a convivência em comunidade exige que cada um execute determinados papéis sociais (veja como a expressão usada corriqueiramente faz alusão ao teatro). Seria impossível e temerário revelar-se inteiramente a todos. Nesse sentido, ninguém deixa de usar máscaras invisíveis – ao menos em alguns momentos.

Não há exatamente mal nisso. O que vale, no fim, é o que se faz. O papel que cada um escolhe para si. A personalidade que se expressa. Este é, enfim, outro legado da tradição clássica que dá sentido a essa interpretação sobre as máscaras cotidianas. A melhor forma de definir uma pessoa, afinal, não é pelo nome ou sobrenome, pela profissão, pela aparência. É por meio da observação do agir, do que ela faz. Se faz o bem, é boa. Se faz o mal, é má. Não há nada que consiga ocultar isso.

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