Primeiramente, a negação, seguida da atribuição da responsabilidade a outro: "Não houve comunicação à prefeitura. Foi uma decisão da Polícia Federal e não sabíamos nem sequer se o papa iria de helicóptero ou de carro [do aeroporto ao centro do Rio de Janeiro]", disse o secretário municipal de Transportes, Carlos Osório, sobre o fato de Francisco ter enfrentado congestionamento na chegada ao Brasil, ficando exposto a riscos. Segundo ato: a mudança do culpado. "A retenção [do carro do pontífice] (...) decorreu de uma série de fatores, em especial de opções do próprio Vaticano", informou nota conjunta da prefeitura e dos governos estadual e federal.
Mas algo não fazia sentido. E logo aparece a verdade óbvia. "Todo mundo envolvido na segurança do papa sabia do roteiro [da comitiva do pontífice]", revelou o assessor da Secretaria de Segurança para Grandes Eventos do governo federal, Alexandre Castilho. Último ato: a aceitação da falha. "Houve um erro. Só não se sabe se do batedor, da prefeitura ou da Polícia Federal", admitiu o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
O papa Francisco não enfrentou apenas um dos problemas que afligem diariamente os brasileiros das grandes cidades, o trânsito engarrafado. Esteve enredado em vários outros males nacionais: a falta de planejamento, o jogo de empurra das autoridades quando algo dá errado e a tentativa de tirar o corpo fora de suas responsabilidades.
De certo modo, esse comportamento típico dos gestores governamentais é uma das razões que levaram multidões de brasileiros às ruas no mês passado. Planos e projetos improvisados produzem serviços públicos deficientes. E é corriqueiro que as autoridades culpem a todos, menos a si próprias, por suas falhas no atendimento das necessidades básicas da população. Duas desculpas clássicas são a herança maldita deixada pelos antecessores e a falta de dinheiro algo que não vale para algumas atividades não essenciais, como a contratação de comissionados.
Pior ainda é a tentativa dos políticos de tentar encobrir os erros por meio da propaganda e do marketing político. E até isso o papa teve de enfrentar em seu primeiro dia no país. No discurso da recepção oficial a Francisco, a presidente Dilma Rousseff não perdeu a oportunidade para tentar transformar suas falhas em sucesso. Disse que as ruas pedem mais qualidade de vida porque nos últimos dez anos período da gestão do PT houve inclusão social.
Pelo menos o cartão de visitas do país ao papa não foi apenas aquele entregue pelas autoridades. Nas ruas, a calorosa acolhida deixou claro que a população fez a sua parte. E mostrou que o povo é melhor do que os governantes.