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Fernando Martins

O fora do normal é cada vez mais normal

Não faz nem três semanas que o Sul do país foi atingido por uma série de tempestades e a região voltou a sofrer com as intempéries da natureza, que causaram morte e destruição. Desta vez até nós, curitibanos, sofremos com a fúria do tempo. A madrugada e a manhã da última segunda-feira foram marcadas por uma chuva muito intensa, completamente atípica. E o nosso problema é exatamente este: em matéria de clima, o fora do normal tem sido cada vez mais normal.

Fenômenos meteorológicos extremos sempre aconteceram. Mas estão ficando cada vez mais frequentes – muito provavelmente devido ao aquecimento global, segundo avaliação da comunidade científica internacional. Como a adoção de medidas para conter o aumento da temperatura do planeta ainda é um sonho distante, teremos de nos acostumar aos eventos naturais fora do padrão habitual.

Esse novo fato do cotidiano exigirá mudanças sérias no planejamento público, que deverá voltar-se de forma mais consistente para a prevenção e redução de danos decorrentes dos fortes temporais. A tradicional desculpa de que a chuva ou o vendaval foi muito acima da média não poderá mais constar do discurso das autoridades.

As prefeituras terão de adotar, por exemplo, as chamadas calçadas verdes, com gramados em meio às pedras ou ao cimento, para ajudar a desimpermeabilizar as cidades e absorver a água da chuva que, de outro modo, causaria enchentes. Em Curitiba, essas calçadas já foram comuns, mas estão desaparecendo pela necessidade de ampliar o espaço das ruas para os carros – o que necessariamente é feito avançando-se sobre o passeio dos pedestres.

Do mesmo modo, as grandes cidades terão de lutar para manter intactos os poucos espaços verdes que ainda restam. Será uma inglória luta contra a pressão imobiliária.

Também será preciso discutir incentivos – talvez por meio de redução do IPTU – para que as construções adotem mecanismos de armazenamento da água da chuva, que poderia ser usada depois na lavagem de calçadas ou para regar plantas, por exemplo.

Até mesmo o paisagismo urbano terá de mudar. As árvores a serem plantadas nas calçadas deverão ser de espécies mais resistente a vendavais, para evitar que caiam sobre carros e casas. E a poda e a limpeza da vegetação arbórea também terão de ser muito mais frequentes para que elas não venham a destruir residências. Medidas como essas combateriam, por exemplo, uma praga que se disseminou nas árvores de toda Curitiba, a erva-de-passarinho. Essa espécie apodrece o tronco da planta hospedeira e, quando chove, se umedece, aumentando o peso dos galhos. É o ingrediente propício para acidentes.

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