A passagem da sonda espacial New Horizons por Plutão deixou no público leigo uma imagem icônica: o grande coração estampado na superfície do planeta-anão, menor que a Lua. Como o astro é também o mais distante e apagado do Sistema Solar e o que possui a órbita mais “desengonçada”, pode-se ver nisso um simbolismo para quem gosta deles. Na vida, às vezes as pessoas de maior valor são as que se assemelham ao pequenino astro – aquelas que menos aparecem e de quem menos esperamos. Vale a pena procurá-las.
A busca por Plutão, por sinal, é uma dessas sagas científicas que merecem algumas linhas. Os astrônomos sabiam, décadas antes de avistá-lo, que ele estava em algum lugar da imensidão do espaço. Há coisas, afinal, que não precisamos ver para saber que existem. No caso do nosso planeta, a hipótese de que havia algo mais no céu foi formulada quando cálculos astronômicos mostraram que a órbita de Urano era perturbada pela gravidade de outro astro não mapeado. Esse misterioso corpo celeste foi chamado provisoriamente de Planeta X.
Há coisas, afinal, que não precisamos ver para saber que existem
O astrônomo norte-americano Percival Lowell dedicou dez anos de sua vida a encontrar o Planeta X, de 1906 a 1919, quando morreu. Lowell nada achou. Ou melhor: fotografou duas vezes Plutão. Mas, infeliz destino, não o reconheceu. Sim, às vezes o que queremos passa à nossa frente sem que percebamos. Mas a persistência costuma dar frutos: o planeta-anão não ficou oculto para sempre e finalmente foi descoberto em 1930.
Aqui começa outra história curiosa de nosso diminuto astro. Planeta X não era um bom nome. Como, então, batizá-lo? O observatório astronômico de Lowell recebeu a honra de nomeá-lo. Foram sugeridas mais de mil opções de nomes, vindas de vários países. E a sugestão vencedora foi de alguém em quem talvez poucos apostassem: uma menininha britânica de 11 anos, fã de mitologia clássica e de astronomia, Venetia Burney.
Plutão é o nome romano do deus do mundo inferior, subterrâneo, das sombras, para onde iam as almas dos mortos, segundo a crença da época. A sacada de Venetia foi de que esse submundo mitológico era escuro e frio, como se supunha ser o planeta. Além disso, as iniciais do novo astro remetiam às de Percival Lowell, o astrônomo que dedicou sua vida a encontrar o pequeno astro de grande coração.