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Fernando Martins

O iraniano e a realpolitik tupiniquim

Realpolitik é o termo alemão usado para definir a política ou a diplomacia exercida à margem de valores, baseada apenas no pragmatismo. De certa forma, é a síntese da máxima maquiavélica de que os fins justificam os meios.

Aos ouvidos brasileiros, a palavra ainda soa um tanto quanto estranha. Mas, ao que tudo indica, teremos de nos acostumar a ela. Afinal, a política externa do Brasil cada vez mais relativiza princípios morais de acordo com suas conveniências. Quando eles interessam a nosso governo, diplomatas e governantes fazem questão de valorizá-los. Caso contrário, os deixam esquecidos em algum rascunho de discurso perdido em uma gaveta.

A visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahma­dinejad, na segunda-feira, coroou a realpolitik verde e amarela. Recebemos com pompa e circunstância o chefe de Estado de uma nação teocrática que persegue oposicionistas e nega os direitos humanos de minorias religiosas, mulheres e homossexuais – assim como o direito à existência de Israel.

Ao mesmo tempo, o governo brasileiro deseja manter no país o ex-ativista de esquerda italiano Cesare Battisti, sob a alegação de que ele corre risco de ser perseguido na Itália – onde vigora uma democracia plena.

Fazemos mesuras a Ahma­dinejad meses após ele ter sido reeleito em um pleito comprovadamente fraudado. Nosso presidente, Lula, chegou a simplificar a questão eleitoral iraniana à queixa natural de quem é derrotado nas urnas; a uma mera "briga entre corintianos e palmeirenses".

Enquanto isso, o Brasil se nega de antemão a reconhecer a eleição presidencial de Honduras que será realizada no próximo domingo – desconsiderando a possibilidade de que ela possa ser limpa e venha a expressar a vontade do povo hondurenho, pondo um fim à crise na qual o país se meteu. A alegação brasileira: a campanha eleitoral está sendo conduzida por um governo ilegítimo, tal qual... o do nosso convidado Ahmadinejad.

A visita do presidente iraniano, na verdade, apenas evidenciou o zigue-zague de princípios que o Brasil vem adotando há anos em matéria de diplomacia. Estamos nos submetendo a uma política pragmática em que o resultado que interessa ora é um bom acordo comercial, ora a costura de alianças políticas externas.

Obviamente, nenhum Estado se pauta apenas por valores morais e éticos em suas relações internacionais. Mas, em um momento em que o Brasil começa a aparecer como uma potência emergente no cenário internacional, a imagem que está construindo é a de uma nação que não defende princípios – ao contrário, que os relativiza. Corre­mos o risco de ser respeitados economicamente, mas não moralmente.

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