O mundo discutiu nos últimos dias o conceito de “pós-verdade” – escolhida a palavra de 2016 pelo dicionário Oxford. Pouco se falou, porém, sobre os outros nove termos ou expressões finalistas desta “eleição”, que reúne vocábulos em inglês definidores de algum comportamento ou fenômeno emergente na sociedade contemporânea.
Juntas, as dez palavras dão um bom panorama dos rumos e desafios dos tempos atuais. Tempos muito contraditórios, que se expressam em termos que indicam forte discurso contra a política concomitantemente a um embate duro entre minorias cada vez mais politizadas e grupos conservadores que reagem a isso. Tudo isso somado a um crescente irracionalismo, substituição do ser pelo parecer no comportamento e do homem pela máquina. Enfim, um mundo de incertezas e medos. Mas também de esperança.
Então vamos às dez palavras:
1) Post-truth (pós-verdade): é a situação em que os fatos objetivos são desconsiderados ou pouco valorizados pelas pessoas, que preferem tomar decisões (sobretudo políticas) baseadas em crenças e emoções. É, enfim, uma circunstância em que a verdade já não é importante, pois foi “superada” – daí o termo pós-verdade. Foi escolhida a palavra do ano em função do Brexit e da eleição de Donald Trump nos EUA. A maioria dos britânicos decidiu num plebiscito pela saída do Reino Unido da União Europeia sobretudo com base na crença falsa de que a Grã-Bretanha está tomada de imigrantes ilegais e que a economia vai crescer se houver o rompimento com os demais europeus (os estudiosos dizem o contrário). Já Trump foi eleito apesar de ter sido totalmente verdadeiro em menos de 10% de seus pronunciamentos de campanha. A pós-verdade não deixa de ser uma face da antipolítica. Afinal, o debate público para formar uma decisão perdeu importância.
2) Brexiteer (sem equivalente em português): é a pessoa que defende a saída do Reino Unido da União Europeia. Em linhas gerais, alguém que teme uma minoria específica: imigrantes .
3) Alt-right (também sem equivalência direta em português, mas poderia ser traduzida como “direita alternativa”): são grupos conservadores ou reacionários que se caracterizam pela rejeição da política tradicional e pela intensa atuação na internet para divulgar conteúdo deliberadamente controverso. É uma realidade não apenas no mundo de língua inglesa, mas também do Brasil.
4) Glass cliff (penhasco de vidro): expressão que define a situação em que uma mulher ou integrante de uma minoria consegue chegar a um cargo de liderança sob circunstâncias em que o risco de fracasso é alto. Um penhasco de vidro é frágil e quem está nele tem chances relevantes de vê-lo se quebrar e, consequentemente, de cair de uma grande altura. Mulheres e minorias, no mundo inteiro, sempre tiveram mais dificuldades para ascender a posições de destaque. Agora que estão chegando a esses postos, começam a enfrentar maior risco de se manter lá.
5) Woke (literalmente, “acordou”, “despertou”; mas não tem uma equivalência precisa em português): usada originalmente pelos negros dos EUA, a palavra define o alerta sobre as injustiças sociais, especialmente o racismo. Negros são outra minoria que cada vez mais tem lutado por seus direitos.
6) Latinx (o mesmo em português): no inglês, os substantivos não têm gêneros. Mas os termos “latino” e “latina” entraram no vocabulário, embora haja o equivalente “latin”. A palavra “latinx” começa a ser usada como alternativa neutra. Vem na esteira de uma discussão, que já chegou ao Brasil, de que os gêneros não são biológicos, mas socialmente construídos. Os defensores do uso do “x” na grafia de palavras masculinas ou femininas, tornando-as neutras, argumentam que isso vai desestimular o preconceito contra as minorias que têm opções sexuais diversas das tradicionais.
7) Adulting (sem equivalente no português): é a prática de se comportar como se fosse um adulto responsável. Um caso em que parecer é mais importante do que ser.
8) Coulrophobia (coulrofobia): medo irracional de palhaços. O termo veio junto com a onda de palhaços que saíam às ruas para assustar pessoas.
9) Chatbot (o mesmo em português): é o programa de computador que simula ser um humano para conversar com pessoas de carne e osso. É uma tendência tecnológica.
10) Hygge (sem equivalente em português): para fechar a lista, a palavra que dá um toque de esperança nesse mundo incerto. É um termo dinamarquês que define a convivência acolhedora entre pessoas que gera um sentimento de contentamento e bem-estar em ambos.
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