"O muro na cabeça" é uma expressão cunhada pelos alemães para definir a nostalgia que uma parcela da população sente pelos tempos da Guerra Fria, em que a Alemanha era dividida em duas. O termo faz referência ao Muro de Berlim, derrubado há 20 anos, em 9 de novembro de 1989. Significa que muitas pessoas não conseguem superar o muro ideológico e psicológico que os separava, a despeito de não haver mais a barreira física que dividia o lado comunista do capitalista.

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Uma pesquisa publicada em setembro pela revista alemã Stern revelou que 15% da população do país gostaria que o país fosse dividido novamente. A maioria está no antigo lado capitalista: 15% dos mo­­radores da antiga Alemanha Ocidental são favoráveis à volta da divisão do país; eles reclamam do custo que pagam para reconstruir o antigo lado comunista. No Leste alemão, os insatisfeitos com a Ale­­manha reunificada são 10% – aqueles que não se adaptaram à concorrência do mundo capitalista.

Embora seja uma expressão que define um desafio da vida alemã cotidiana, "o muro na cabeça" pode ir além das fronteiras germânicas para explicar por que a visão de mundo bipolar da Guerra Fria ainda contamina o pensamento de muita gente, inclusive no Brasil. Apesar de o Muro de Berlim ter caído, ele continua existindo como ideologia para alguns que passaram a vida defendendo um dos dois lados.

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Nada mais explica a visão persistente, em grande parte da sociedade, de que os empresários são todos exploradores da mão de obra assalariada. E de que o império norte-americano tenta colonizar a nós, pobres latino-americanos.

A defesa intransigente de Cuba, considerada um exemplo a ser seguido por uma parte da esquerda, é outro exemplo do muro mental. Os seus defensores lembram que a ilha ostenta indicadores de educação e saúde superiores aos brasileiros – argumento que omite o fato de haver países capitalistas com desempenho muito melhor ao cubano.

No campo da ação prática, o muro na cabeça revela-se ainda na insistência de um movimento como o dos sem-terra em invadir e depredar propriedades produtivas em nome de uma pretensa revolução socialista.

Talvez pelo fato de a antiga esquerda ter perdido a Guerra Fria, a dificuldade em reconhecer que o mundo mudou se manifeste mais no pensamento e nas ações de quem militou pelo socialismo. Mas a parede mental também faz parte da direita. A derrubada do presidente hondurenho Manuel Zelaya é um exemplo disso. Foi revestida, dentre outras, das justificativas típicas dos golpes militares dos anos 60 e 70: Zelaya é de esquerda e estava cercado de "comunistas", argumentou o presidente interino Roberto Micheletti.

O muro na cabeça ainda vai demorar mais um tempo para cair totalmente. Mas irá. O capitalismo é um fato consumado. Discutir isso é perda de tempo. O grande embate do século 20 será entre democracias e ditaduras. Mas esse já é assunto para outra coluna.

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