Quando os primeiros navegantes europeus aportaram na Ilha de Páscoa, no século 18, provavelmente ficaram surpresos ao se deparar com centenas de moais – gigantescas estátuas de pedra que reproduzem rostos humanos. A exótica civilização que ergueu aqueles monumentos, em um isolado pedaço de terra no meio do Pacífico Sul, já não existia mais. Deixou no ar um enigma que persiste até hoje: qual é o significado dos moais? Como eles foram esculpidos e levados aos locais onde estão?

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Uma moderna teoria parece ter encontrado ao menos o motivo que levou aquela sociedade capaz de erguer estátuas tão imponentes a simplesmente deixar de existir. A resposta, segundo essa tese, está no meio ambiente. Os rapanuis, povo que esculpiu os moais, teriam esgotado seus recursos naturais quando sua civilização estava no auge.

Aves, pescado, madeira das florestas, fertilidade do solo. Segundo evidências arqueológicas e biológicas, tudo teria sido consumido nos séculos que antecederam a chegada dos europeus, provocando um grave desequilíbrio ambiental. Como os rapanuis viviam em uma ilha, não puderam avançar sobre novas frentes de exploração da natureza – o que resultou no colapso daquela sociedade.

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Sobraram apenas os moais, olhando para o nada, como símbolo do trágico destino da Ilha de Páscoa e um alerta para o mundo moderno: se destruirmos nosso meio ambiente, para onde iremos? O planeta Terra, embora vasto, também pode ser considerado uma ilha na imensidão do espaço interestelar. Ainda assim todos os dias vemos sinais de esgotamento da capacidade dos recursos naturais.

Mas essa singela constatação parece não seduzir corações e mentes dos governantes da maioria das nações. Estados Unidos e China, por exemplo, se uniram para evitar que sejam obrigados a ter de assumir o compromisso de fazer cortes de emissões de gases do efeito estufa na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas que será realizada, no mês que vem, em Copenhague – a despeito dos reiterados estudos científicos de que o planeta está se aquecendo de forma descontrolada.

O Brasil, acertadamente, definiu a meta de reduzir suas emissões em até 38,9%. Mas, na mesma semana, o governo cedeu à pressão dos ruralistas e decidiu adiar de 11 de dezembro deste ano para 11 de junho de 2011 a exigência para que os produtores rurais cumpram a lei e tenham uma reserva florestal em suas propriedades – ou, ao menos, assumam o compromisso de recompô-la ao longo dos anos.

A recuperação dessas reservas, por si só, já seria um passo para reduzirmos nossas emissões. Nos bastidores, especula-se que o setor rural apenas quis ganhar tempo para atenuar o Código Florestal e, quando 2011 chegar, não ter de cumprir tantas exigências legais. Mas o governo olhou para o meio ambiente com olhos de pedra, tal qual os moais da Ilha de Páscoa, sem enxergar de verdade o que se passa a sua volta.

Fernando Martins é jornalista.

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