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Fernando Martins

O país que sai das urnas é menos machista

As candidatas Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) somaram 66,2% dos votos válidos na disputa presidencial. São dois terços dos eleitores que não se importam com a possibilidade de ser comandados por uma mulher

Depois da festa da democracia, vem a ressaca eleitoral. É um tanto quanto frustrante, após ir às urnas esperando que delas saia um país melhor, perceber que tenham sido eleitos políticos corruptos, celebridades que não têm muito a dizer e até mesmo um palhaço que brinca com a democracia. Mas nem tudo é motivo de lamentação. As eleições também mostraram que o brasileiro está menos preconceituoso e machista.

As candidatas Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) somaram 66,2% dos votos válidos na disputa presidencial. São dois terços dos eleitores que não se importam com a possibilidade de ser comandados por uma mulher pelos próximos quatro anos.

Considerando ainda que a expressiva maioria dos que escolheram José Serra (PSDB) não tenha votado nele simplesmente porque o tucano é homem, pode-se afirmar com toda certeza que o sexo do candidato não é mais um critério que importe na escolha do (ou da) presidente.

É um inegável avanço, visto sob perspectiva histórica. Não faz muito tempo que as mulheres estavam impedidas legalmente de ter direitos políticos. Foi só em 1932 que a lei permitiu que elas votassem e fossem votadas.

Mas, obviamente, o desempenho de Dilma e Marina não permite concluir que o machismo tenha acabado no país. O preconceito contra a mulher ainda existe e se manifesta de diversas formas. Elas, por exemplo, ganham menos que os homens no mercado de trabalho, mesmo quando desempenham as mesmas funções. O salário das mulheres, segundo o IBGE, chega a apenas 72,3% dos rendimentos masculinos. Mas já foi pior. Em 2003, elas recebiam 70,8%.

O que o resultado das urnas expressa é uma das facetas dessa longa jornada pelo fim do preconceito. A eleição revela que a cabeça do brasileiro está mudando. Sempre demora um pouco para que as ideias comecem a ter efeitos práticos no dia a dia. Mas, aos poucos, o país está ficando mais igualitário.

Correção

Em minha coluna de duas semanas atrás, critiquei o ex-ministro José Dirceu (PT) por ter defendido, em uma palestra em Salvador (BA), a tese de que há "excesso de liberdade de imprensa" no Brasil. A informação tinha sido amplamente divulgada em toda a imprensa. Mas estava errada e cabe aqui fazer a correção. Nos últimos dias, começou a circular na internet o vídeo com a íntegra do discurso de Dirceu, no qual ele diz exatamente o contrário. Toda confusão ocorreu porque o PT da Bahia distribuiu uma nota à imprensa informando equivocadamente que o ex-ministro havia dito na palestra que a mídia tinha excesso de liberdade.

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