Quem usou máquina de escrever – o que hoje parece ser um objeto pré-histórico – sabe que redigir um texto numa Olivetti era muito diferente de escrevê-lo num computador. Como não era possível apagar e alterar grandes trechos (muito menos copiar e colar), o redator obrigava-se a ter uma boa ideia do começo, meio e fim do que pretendia pôr no papel. Tinha de pensar na estrutura da narrativa. Conceber mentalmente frases inteiras antes de datilografá-las. Planejar, por assim dizer, a redação. Ou então era obrigado a amassar as folhas e a começar tudo de novo. Hoje é possível deixar o pensamento fluir na tela e ir corrigindo-o posteriormente.

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Assim como ocorreu com os softwares de edição de textos, qualquer nova tecnologia muda a forma como o homem se relaciona com o mundo e até mesmo como raciocina. E talvez poucas sejam tão onipresentes e tenham alterado tanto o cotidiano como o Google – para o bem e para o mal.

Com apenas 15 anos, completados na última sexta-feira, o principal buscador da internet brindou a humanidade com a possibilidade de encontrar uma profusão de dados sem precedentes. Hoje parece estranho viver sem ele. "Pergunta para quem sabe" tem sido uma expressão usada corriqueiramente para orientar alguém a recorrer ao Google. Assim, o buscador virou o maior professor de que se tem notícia. Um professor que tenta inclusive se antecipar ao anseio por respostas. Quem nunca começou a digitar a informação que procura e a viu aparecer no monitor antes mesmo de terminar de escrevê-la?

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Mas a "googledependência", em troca, condiciona a informação a que se tem acesso e, consequentemente, o que se pensa acerca daquilo. O que não tem relevância para os algoritmos do buscador tende a ser desimportante. É como se não existisse, ainda que eventualmente seja do interesse de alguém. A importância deixa, assim, de existir por si só e passa a ser tão somente o resultado de critérios que foram previamente definidos por programadores – que são, não nos esqueçamos, humanos com sua própria visão acerca do que é relevante.

O esquecimento, por sinal, é outra consequência da soberania do Google. Quando se sabe que uma informação estará facilmente disponível a qualquer momento, fica mais fácil não memorizá-la. E, como há a impressão de que tudo está virtualmente disponível na web, a memória humana tem ficado mais preguiçosa.

Ainda é cedo para saber exatamente aonde o Google vai nos levar, como vai moldar nossa percepção de mundo. Essa, aliás, é uma pergunta para a qual nem mesmo o buscador tem uma resposta pronta. Tente fazê-la para ver no que dá.