Uma pessoa de princípios fortes costuma ser vista com bons olhos. Isso faz parte do senso comum. Mas agir estritamente de acordo com aquilo que se crê não é necessariamente salutar. Bons princípios tendem a produzir boas ações. No entanto, princípios errados, quando postos em prática, conduzem ao equívoco. A história está cheia de líderes que acreditavam cegamente estar certos em sua forma de ver o mundo e de agir. Muitos deles não colheram bons frutos e outros levaram seus povos à ruína.
A presidente Dilma Rousseff parece ser uma mulher de princípios, sobretudo na economia. Adepta da linha do desenvolvimentismo, nos dois primeiros anos de seu governo ela parece ter seguido a cartilha teórica de que um pouco de inflação estimula o crescimento. Durante a sua gestão, o Banco Central priorizou a queda de juros para estimular a atividade privada. E deixou mais frouxo o controle inflacionário. Passada metade do mandato da presidente, o Produto Interno Bruto (PIB) do país não decolou. Por outro lado, os índices inflacionários já começam a incomodar o bolso do consumidor algo com que há tempo os brasileiros não conviviam.
Economista de formação, Dilma dá indicativos de que apostou num princípio teórico da escola macroeconômica na qual acredita fortemente. Não conseguiu o crescimento desejado e a inflação voltou a ser um risco. Não vem dando certo, portanto. Embora o país tenha pleno emprego e não passe por uma crise, o PIB per capita do Brasil ainda é baixo para conduzir todos ao bem-estar social. E a inflação é mais um obstáculo para atingir esse objetivo.
Talvez nesse aspecto ela devesse se mirar em seu antecessor. O ex-presidente Lula, um metalúrgico sem formação universitária, foi mais pragmático algo que ele demonstrava ser desde quando era sindicalista. Apostou naquilo que a prática mostrou funcionar e obteve um desempenho mais satisfatório que Dilma na área macroeconômica. Embora o crescimento do PIB não tenha sido excepcional nos oito anos da gestão lulista, foi melhor que o atual. E a inflação era mantida sob mais controle. Esse foi um fator importante para garantir o poder de compra dos trabalhadores o que estimulou o consumo e, consequentemente, um crescimento mais robusto.
Portanto, o pragmatismo não deve ser visto necessariamente como ausência absoluta de princípios, mas sim como submissão crítica dos princípios à realidade. Os bons e verdadeiros vão passar no teste. Os demais são descartados.