A Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), divulgada pelo IBGE na semana passada, traz dados que confirmam a sina de o Brasil ser uma nação com um pé na modernidade e outro no atraso. Ao mesmo tempo, o levantamento ajuda a derrubar a tese, que ganhou força após a crise financeira internacional, de que o Estado é essencialmente melhor do que a iniciativa privada ideia que vem sendo explorada em períodos eleitorais como o atual.
Talvez os dados do levantamento do IBGE que mais ajudem a desfazer esse mito sejam os referentes à telefonia e ao saneamento básico: 84,3% dos brasileiros têm telefone em casa, contra 59,1% que dispõem de coleta de esgoto. Ou seja, temos a possibilidade de falar com o mundo, mas nossos dejetos continuam a poluir o meio ambiente e a causar doenças plenamente evitáveis.
Pode-se afirmar que a telefonia, setor que foi privatizado nos anos 90, está a passos largos para ser um serviço universal no país ainda que tenha uma série de problemas, principalmente na tensa relação do consumidor com as operadoras. Quem se lembra do período anterior às privatizações sabe o drama que era comprar um telefone: havia fila de compradores e tempo de espera. E a linha telefônica, de tão escassa, era um patrimônio valioso que passava de pai para filho.
Já o saneamento básico, área que continua dominada por empresas estatais e que depende de recursos governamentais, caminha lentamente. Quase metade dos brasileiros não tem coleta de esgoto um serviço, como o próprio nome diz, que deveria ser básico.
Obviamente, os dois ramos econômicos têm naturezas completamente distintas. E não é possível concluir, a partir dos dados do Pnad, que o melhor seria privatizar as companhias de água. Ao contrário, isso poderia criar um monopólio privado de um serviço essencialmente público. Afinal, não há competição no setor e o consumidor não teria a opção de escolher outra empresa para beber água e tratar seu esgoto, ao contrário do que ocorre com as telecomunicações.
Mas a pesquisa do IBGE indica que as privatizações não podem ser demonizadas, principalmente quando se criam condições para que haja competição no setor. E a Pnad mostra ainda que o Estado não é necessariamente um bom provedor de serviços, como o saneamento.
A discussão sobre o papel do Estado na economia é, portanto, muito mais complexa do que costuma ser apresentada pelos políticos, sobretudo em períodos eleitorais. O estatismo e o liberalismo puros são muito bons para discursos. Mas não costumam resistir aos fatos.
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