Vestida de branco ou cinza, a vejo todas as manhãs de minha janela. Fico à espera de quando vai sacar o espesso manto e exibir-se no traje azul e dourado que esconde por trás do capote matutino. Essa é uma hora iluminada. Mas, indiferente aos desejos alheios, nem sempre a esperança de quem espera é satisfeita. Goste ou não, ela é assim. E ela é mais ela justamente nesta época em que as noites são longas, os dias curtos e as manhãs preguiçosas.
Curitiba costuma se vestir de brumas ou de nuvens nas manhãs do inverno. Não é algo muito estimulante para quem espera um pouco de sol e calor. Pode-se acusá-la de ser fria. De fato é. Mas se a frieza é uma marca da cidade que, dizem, contamina sua gente, não se pode dizer que ela seja seca. E, então, o que falar do curitibano? Áridos é que não devemos ser.
A cidade da luz dos pinhais é assim: teima em nos dar sua luz aos poucos.
A umidade habita entre nós desde sempre. Isso é fruto do olhar da Senhora da Luz que, reza a lenda, escolheu o lugar onde queria que os colonizadores fizessem sua morada, lá pelos idos dos 1600. Inspirados pela santa, os pioneiros procuraram os índios tinguis para escolher um bom ponto deste planalto para se fixar. E, quando o cacique Tindiquera fincou uma estaca no chão da atual Praça Tiradentes e disse aos primeiros curitibanos “Tá! Tati kéva” (“Aqui! Aqui é o lugar”), o destino estava selado.
A quase 1.000 metros de altitude, a 100 quilômetros do mar e cercada de rios, Curitiba não haveria de ser diferente. O Atlântico bafeja, constante, umidade na direção do continente. A serra não chega a ser barreira para o alento marinho, que sobe as escarpas verdes, se condensa e vem nos visitar. Com habitual frequência. O céu nublado que nos cobre é, portanto, como um mar. Um mar, contudo, sobre nossas cabeças e sem praia. A água que evapora dos riachos e banhados também contribui. Pior para nós no inverno. Ficamos no aguardo de que uma nesga de sol escape pela cortina do céu cinzento e venha nos aquecer. A cidade da luz dos pinhais é, afinal, assim: teima, por rotineiras vezes, em nos dar sua luz aos poucos.
Mas, se ficamos submetidos aos infortúnios da umidade nestas paragens escolhidas pela santa e pelo cacique, a geografia nos deixou ao alcance do vento polar. Quando chega, ele sopra para longe a nebulosidade. Deixa o ar gelado, é verdade. Pelo menos sobram o céu azul e o calor do sol para esquentar. Mas só depois, é claro, que Curitiba tira o véu da neblina matinal. E então a cidade se mostra, formosa, em toda sua luz de inverno. E faz jus à sua origem mítica. Naturalmente, não dura muito. Mais cedo ou mais tarde, ela volta a se cobrir de cinza. Talvez seja para que não nos esqueçamos, nunca, de como sua luminosidade é boa. Caprichos da dama vestida de nuvens e brumas.
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