Após o fervor religioso e místico que marcou a vida na Alta Idade Média, a Renascença recolocou a humanidade no centro do mundo, como medida da realidade. Com suas obras-primas em pedra e tinta, artistas renascentistas eternizaram homens, mulheres, deuses e deusas em toda sua beleza divina e defeitos humaníssimos. O ideal do Renascimento sobreviveu à passagem dos séculos e aos modismos. Interpretar e expressar a si próprio nunca deixou de ser atual. O humanismo havia enfim chegado para ficar.
Parecia ter chegado para ficar. A estética renascentista, porém, entrou no século 21 em crise. O padrão de beleza que hoje se impõe às mulheres iria surpreender e intrigar artistas como Da Vinci, Botticelli e Ticiano. Talvez eles nem mesmo fossem alçados à condição de gênios com suas donnas voluptuosas. Ou teriam então de submeter suas telas à ditadura do Photoshop antes que fossem publicadas ou reproduzidas.
Em busca de uma falsa perfeição, publicações contemporâneas de moda eliminam curvas genuinamente femininas em programas de computador do tipo Photoshop. E consagram a magreza incomum como modelo do que é belo.
O padrão quase inalcançável de beleza surpreendentemente aprisiona mulheres em uma era em que elas são cada vez mais livres. A emancipação feminina comemorada nesta semana veio acompanhada de um novo grilhão. Um retrocesso. Um desprezo àquilo que o humanismo renascentista mais tem de valoroso: o entendimento de que o ser humano é belo por ser humano; por ser virtuoso e imperfeito ao mesmo tempo.
A artista plástica italiana Anna Utopia Giordano simulou como seriam obras clássicas do Renascimento submetidas aos padrões modernos da estética feminina. O resultado no mínimo é curioso. As imagens da artista podem ser acessadas em http://bit.ly/yMVBDy.
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