Beronha chegou esbaforido à mansão da Vila Piroquinha.
A Betelgeuse está encolhendo! A Betelgeuse está encolhendo!
Mesmo não tendo vocação para maracujina, Natureza Morta tratou de acalmá-lo, embora concorde que anunciar o encolhimento da Betelgeuse pode ser aterrador. Principalmente para quem insiste em ouvir ou ler as coisas pela metade. Nosso anti-herói é Ph.D. em "pegar" recado na escada.
O que vem a ser Betelgeuse, afinal? Alguma cerveja sem álcool?
Trata-se de uma supergigante vermelha, da constelação de Órion, uma das estrelas mais brilhantes no céu sobre a Terra e que tem um diâmetro estimado em mais de 900 vezes o do Sol, a cerca de 600 anos-luz.
Uau! E como você sabe?
Simples, acabei de ler a Pesquisa, da Fapesp. Segundo a revista, Betelgeuse talvez não seja mais a mesma. Estudo feito na Califórnia indica que ela está encolhendo, e rapidamente. Já perdeu 15% do tamanho nos últimos 15 anos.
A provável boa notícia: a Betelgeuse poderá explodir e se tornar uma supernova em alguns milhares de anos. "Seria um espetáculo de dimensões tão grandes que a luz resultante seria mais brilhante do que a da Lua no céu noturno sobre a Terra."
Poeticamente assustador, arrisca Beronha.
Ainda da Fapesp, algo mais tranquilizador. Você peca pela falta de criatividade? Tem problema difícil de solucionar? Deixe tudo de lado e vá dormir. O estudo indica que o sono estimula a criatividade e a solução de problemas. O sono, especificamente no estágio REM, sugere a formação de redes associativas no cérebro. REM (sigla em inglês de "movimento rápido dos olhos") é a fase caracterizada pela presença de sonhos e maior atividade neuronal do que a fase não REM.
Entendeu?
Não.
Nem eu. Mais vamos lá. Outro trabalho de uma universidade da Califórnia mostra que a fase REM estimula diretamente o processamento criativo mais do que qualquer outra fase do sono ou mesmo durante o período em que se está acordado. "Para questões ligadas ao que a pessoa está trabalhando no momento, a passagem do tempo é suficiente para encontrar as soluções. Entretanto, para novos problemas, apenas o REM é capaz de aumentar a criatividade. Ele ajudaria a chegar a soluções por meio do estímulo de redes associativas, permitindo que o cérebro estabeleça ligações novas e úteis entre ideias não relacionadas."
Às "cobaias" foram apresentados múltiplos grupos de três palavras e elas tiveram de falar uma quarta palavra que poderia ser associada com as demais. Foram feitos testes nas manhãs e no fim do dia, com os voluntários divididos entre três grupos: o primeiro que dormiu à tarde e atingiu o sono REM, outro que dormiu sem atingir essa fase e um terceiro que ficou em descanso sem dormir. O primeiro grupo apresentou um aproveitamento 40% melhor nos testes feitos após o período de sono. Os demais não mostraram resultados diferenciados. A diferença "é que a formação de redes associativas a partir de informações previamente não relacionadas no cérebro, que levam à solução criativa de problemas, seria facilitada".
Beronha: é, o jeito é contemplar a Betelgeuse e depois mergulhar no REM...
Francisco Camargo é jornalista.
