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O título acima foi descaradamente copiado do filme de Waris Hussein, de 1983, que, por sua vez, foi baseado no romance The Winter of Our Discontent, de 1961, de John Steinbeck.

Por que isso? Para falar do frio em Curitiba, que andou brabo nesta semana. Brabo, mas não o suficiente para tirar da moda algumas moçoilas e outras nem tanto, que continuaram com a barriguinha ou barrigona à mostra.

Sobre baixas temperaturas, um amigo do Natureza Morta e do Beronha conta que, depois de anos e anos de pressão da patroa, que insistia em "conhecer a neve", levou-a para Bariloche. Tiveram sorte: foi uma temporada de fortes nevascas. Prato cheio? Nem tanto.

– Até hoje ela reclama.

– Dos preços?

– Não, do frio.

Aliás, em Bariloche, Natureza teve um bom exemplo do humor argentino. O ônibus atolou na estrada, a caminho de Cerro Catedral, e nada de aparecer uma máquina para remover a neve. Algum tempo depois, o guia fuzilou:

– Todo o ano tem nevasca. Só a prefeitura ainda não sabe disso.

Japão, inverno. No quarto do hotel, centro de Tóquio, ao lado da cabeceira da cama, no pé do criado-mudo, Natureza encontra uma lanterna e uma machadinha, bem ao alcance da mão. Uma espécie de kit de sobrevivência para o caso de terremoto. Lá, os abalos, de baixa intensidade, são comuns, dizem que diários. Aprende-se a permanecer de sobreaviso.

– É, viver é perigoso, pensou.

E naquela noite tratou de acrescentar ao kit uma garrafa de Jack Daniel’s. Para fortalecer o espírito.

A cidade de Kobe, na região Oeste, foi devastada em 1995 por um terremoto de 7,3 graus. Cerca de 6.500 pessoas morreram. Três anos depois, ainda havia gente nos abrigos provisórios, montados para abrigar sobreviventes, muitos deles, geralmente idosos, à espera de algum familiar ou amigo. Enfrentavam uma segunda tragédia: a da solidão, do esquecimento, do abandono puro e simples. Como estará hoje o acampamento de Kobe, ainda há gente nele? O jeito foi dar uma talagada no velho Jack.

Muitos anos antes disso, em São Gabriel, Rio Grande do Sul, desembarcava do trem uma família. Vinha de Castro, Paraná. Militar, o pai tinha sido transferido para uma unidade do Exército a 320 quilômetros de Porto Alegre. Ele seguiu antes, para alugar casa e tomar outras providências. Afinal, viriam a mulher e seus sete filhos. Tudo preparado, instalam-se em um casarão, fora do centro da cidade, próximo ao quartel "do verde". Primeira noite. Céu estrelado, limpo, céu do Rio Grande. De repente, o minuano. Arrancou quase todo o telhado. Sorte, ninguém saiu ferido. Espanto, medo. Ninguém tinha enfrentado um minuano – ou mesmo ouvido falar dele.

Todos bem, porém assustados. O amanhecer demorou mais para chegar. Uma eternidade. Mas o inesperado outra vez: lentamente, do meio da névoa começam a surgir vultos de todos os lados. Aos poucos, os contornos vão se definindo, percebe-se que são pessoas. Dezenas delas. Avançam carregando mantas, agasalhos, comida, chaleiras com água. São desconhecidos que vieram oferecer ajuda, solidários com quem nunca tinham visto antes, mas que, de uma forma ou de outra, sempre foram vizinhos.

Gesto amigo, calor humano.

A verdade é que o pior frio é o frio que vem de dentro da gente.

Francisco Camargo é jornalista.

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