| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do povo

O curitibano Rodolfo Lin­­­­coln Hey, 45 anos, calcula que era um guri de colo quando desenhou um pinheiro-do-paraná pela primeira vez. É o que lhe contam. Já crescidinho, seria aluno de Arthur Nísio – um dos papas da pintura paranaense – e se rendeu outra vez aos encantos daquela que é tida como "a mais bela árvore do mundo". Pintou florestas inteiras com pinceladas urgentes e cheias de viço.

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Para ganhar seu pão, contudo, Hey escolheu o Direito em vez da pintura. E no Direito, elegeu a criminalística, uma espécie de montanha-russa com três loopings seguidos. "Eu vivo no fio da navalha", brinca o homem que trocou os filés das artes pelos ossos duros da lei. Mas eis que, já estabelecido, ao comprar um terreno nos altos do Abranches, o advogado – tomado pelo instinto – cavou o chão, plantou ali um pinheiro e mirou sua Curitiba na paisagem. Deve ter tido até trilha sonora – por ele mesmo, que, além de pintar, é exímio violinista e pianista, um estudioso de Bach.

A muda da pinha no quintal foi o estopim que fez a alma de Rodolfo passear em 1856, quando os primeiros Hey, peregrinos luteranos, desembarcaram no Sul. Era como se por encanto seus antepassados alemães, e também os poloneses, tivessem saído dos túmulos para zanzar na antiga colônia e lhe perguntassem "cadê?" os bosques e os lambrequins.

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Em 1996, não por menos, o advogado desenhou num guardanapo uma típica casa polonesa, comprou ripas, vigas e janelas de uma demolição e entregou a obra a um ex-acusado que livrou das grades – o "Liketa". Depois de pronta, pintou-a de vermelho e verde tão intenso que pode ser vista pelos discos voadores. É sua casa polaca, com sótão, galinheiro e grossas demãos de Suvinil R113.

Não sossegou. Uma década depois, projetou para a parte dos fundos do terreno um chalé, no melhor do estilo enxaimel. É sua casa alemã. Ainda há algumas por aí, mas nenhum com uma torre de 21 metros de altura, de onde se pode ver a Serra do Mar, Almirante Tamandaré e o "Big da Boa Vista".

Da Rodovia dos Minérios, ao perceber o monumento, há quem o chame de a "Torre da Rapunzel". Na redondeza – onde muitos juram que foi erguida em 1900 e caqueira e pertencia à Genoveva – as casas polonesa e alemã são cenário para toda sorte de comédia. Quando passa perto, um bêbado do bairro se benze e clama o nome de Jesus, pois entende que se tem torre e sino, é igreja. E como há um templo ucraniano do lado, uma funerária, por engano, chegou a deixar no portão dos Hey duas coroas de flores. Por pouco não desceu também o caixão.

Difícil dizer o que mais impressiona ali – num dos cantos da casa polaca, por exemplo, Rodolfo mandou construir um órgão de tubo que vara os andares. É sonho. Há um riacho rente aos muros. Os detalhes são o que há. E do ponto mais alto da torre – a mil metros de altura – bem, nenhum de nós quando piá teve cabana igual à do Bernardo, seu filho de 15 anos.

Mas o que encanta mesmo são os Hey. Pai e filho têm as quatro pilhas ligadas, mas são capazes de num estalo interromper uma preleção sobre o iluminista Buffon e formar um dueto de violino e piano para tocar uma variação de Mendelssohn. Palmas. Em segundos estão nos conduzindo pelo porão da casa polaca, cujas paredes são todas ilustradas com os pinheiros de Rodolfo.

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Lá pelas 7 horas da noite acendem as 7,5 mil lâmpadas que o próprio Bernardo instalou na fachada. No bolso do pai caiu R$ 454 de luz neste mês. "A Copel não apoia", dispara o menino prodígio. Mas não gasta saliva com lamúrias. Filho e pai cantam O Tannenbaum, Adeste Fidelis e Noite Feliz como se falassem de futebol. Alguém da vizinhança bate à porta e pede para tirar foto, em pé do pinheiro, lambrequim e torre ao fundo. Está perto, afinal, a noite de Natal.