Houve um tempo em que a simples suspeita de que Aliete Prosdócimo estava por perto levava as moçoilas ao desespero. Em minutos rápidas, feito uma Yelena Isinbayeva , aprumavam as costas, encolhiam a barriga, levantavam o queixo e projetavam um dos pezinhos para frente. Pose de miss. Por fim, ensaiavam um sorriso nunca cheio de dentes, pois gargalhar amiga é coisa de pistoleiras.
Para as mais inseguras, restava a toillete, onde o espelho lhes servia de conselheiro. Se por azar não tivessem blush à mão, beliscariam as próprias bochechas para ficar na saudável cor "rosa-excursão". Ninguém ousaria se apresentar borralheira diante de Aliete, a dona da Socila/Socipar, centro de estética que de 1972 a 2002 foi sinônimo de elegância na terra dos pinheirais.
Há quem papagueie a velha opinião de que o salão de beleza plantado entre as ruas Sete de Abril e Almirante Tamandaré não passava de um templo do esnobismo à curitibana. Suas clientes se resumiriam a filhinhas de papai, pigmaleoas, cafonas incorrigíveis e aventureiras à cata de um bom partido. Todas tão loiras quanto Jean Harlow.
Bobagem. Com perdão ao clichê, a Socipar nome oficial foi palco de uma revolução feminina, cujo alcance ultrapassou os salões do Graciosa e do Curitibano. Na década de 70, quando o empreendimento nasceu em 200 metros quadrados do Alto da XV , o Paraná fazia sua transição tardia do rural para o urbano. Aliete, oriunda da colônia italiana, mas cedo apresentada à high society, sabia do que tratava e matou a charada: faltava it como se dizia às gurias que transitavam pela era psicodélica como se estivessem exibindo um vestidinho bege numa soirée do Thalia.
Àquela altura, as bem-nascidas ainda frequentavam colégios católicos, onde aprendiam francês com biquinho e como se portar à mesa. Mas permaneciam interioranas caladas, pouco à vontade a bordo de uma meia de lurex. Que dirá esboçar uma opinião sobre a crise mundial do petróleo. Ai, que dor de dente.
A primeira medida civilizatória de nossa heroína foi transformar um quarto dos fundos em academia de ioga. "Já tinha cumprido minha pena como dona de casa", diverte-se. Entre um "malasana" e outro descobriu que a clientela queria mesmo era aprender a pilotar cílios postiços e a falar em público, entre outras lições que só a Socila do Rio de Janeiro ensinava.
Deu no que deu fez uma parceria com a dona da marca, a mítica Maria Augusta, a que dava bengalada nas misses. De quebra, salvou Curitiba da tirania dos terninhos de tweed. Explico. Aliete sacou que para sobreviver àqueles tempos não bastava ser chique. Tinha de estar com as pilhas ligadas.
Em paralelo à etiqueta, promoveu a oratória, cursos de modelo, criou academias, spas e em outlets. Tudo numa época em que exercício era sinônimo de footing, regime se fazia com anfetaminas e liquidação não passava de conversa das domésticas.
Num estalar de dedos, o estabelecimento saltou para 1,2 mil metros quadrados. Parecia o cenário de uma novela da época: Locomotivas, palavra com a qual as "panteras" também podiam ser chamadas. Arrombou a festa.
A veterana pensa em escrever um livro sobre como mexeu com a alma e com a peruca da mulherada. Que o faça ao som de Stayingalive. Afinal, se pela Socila passaram meninas com dificuldades tolas, como a de sentar no carona de um fusca trajando minissaia e bustier, também circularam as primeiras desquitadas da paróquia. Elas chegaram dispostas a dar um bico na Curitiba que cheirava a "Flor de Maçã", da Helena Rubinstein. E a começar de novo, com o topete em riba. Quero saber o bicho que deu.
Fuxico. Aliete está com 73 anos e quase não badala. Gosta mesmo é de andar de bicicleta em Guaratuba, de chinelo de dedo e cabelo ao vento. É dama de rosa do Hospital Erasto Gaertner. E odeia chapinhas. Mirem-se no exemplo.