Tem moça bonita que não resiste aos banners instalados numa fachada da Rua Riachuelo esquina com a XV: "Miss Curitiba. Inscreva-se já". Elas deixam o Expresso passar, sobem ligeirinhas, apertam o "23" e pedem para falar com "aquele homem do concurso". Pois é: "Dificilmente quem bate na porta é uma Taiomara Brochardt", reconhece o tal do homem Danilo DÁvila, 69 anos, bigodinho em riba, ao lembrar de uma de suas crias ilustres, a parnanguara eleita Miss Brasil Internacional 1981.
A primeira descoberta de Danilo foi ninguém menos do que Isadora Ribeiro, em 1976, num concurso mirim para o programa Mário Vendramel. Foi divertido e só. Tinha mais o que fazer. Era, afinal, um dos reis da publicidade local, posto conquistado à custa de muita sola de sapato no petit-pavé.
Gaúcho de Porto Alegre, Danilo chegou a Curitiba em 1963. Tinha 22 anos e era locutor esportivo. Passou por rádios do quilate da Colombo e da Guairacá. Naquela época, a turma das emissoras precisava ter voz boa, mas também pernas para correr atrás de patrocínio. Ele correu. Deu tão certo que abriu sua própria agência de propaganda. Sabe a Disapel, os Móveis Pedroso e a Samuca Modas? Pois é, slogans do degas.
Mas eis que de repente veio a sarna de fazer concurso bem ele, cuja única experiência no ramo fora torcer, em 1956, por Maria José Cardoso. Tinha então seus motivos: ele era um piá nos primeiros fios de barba. Ela tinha um corpão violão, olhos de farol, nome de professora de grupo escolar e representava o Rio Grande do Sul. Inesquecível como um Grenal.
Depois da Isadora um achado pelo qual merece louros veio o convite para fazer o Miss Paraná 1977 e mais um e ainda outro, sem pausa para o xixi. Nunca mais se livrou dos cetros e das coroas. Hoje, rara a semana em que o escritório de DÁvila, representante do Miss Globe International e quetais, não tem candidata numa competição seja no Sri Lanka ou no Sítio do Caqui, em Colombo.
As paredes do escritório estão abarrotadas de fotos de beldades, pezinho para frente. É Thaís Pacholek para cá. Helen Silva para lá. Onde andará Grazi Massafera? Vejo o retrato de uma Miss Curitiba chamada Gislaine Sera Meiga. E leio a mensagem emoldurada que uma lindeza mandou pro Danilo: "A beleza verdadeira é aquela que trazemos em nosso coração". Ahã.
"Precisa ser bonita", dita o homem. "Concurso bom é concurso com um time forte. Mesmo assim, a Marizabel Domingues foi injustiçada em 1984. A Natália Guimarães [Miss Brasil 2007] também", esbraveja, possuído pelo locutor esportivo que ainda é. Bem disse o cronista Carneiro Neto. "O Danilo trocou a canela dos jogadores pela canela das misses".
Até onde se sabe, não se arrependeu. "Vocês vão me ver de bengalinha apresentando as garotas... Russas, polonesas, tchecas difícil saber qual a mais bela. Já as japonesas, difícil saber quem é quem." Ele se diverte. Mas não o aporrinhem dizendo ter acabado a era das misses. "Há mais de 80 competições. Miss é miss. Modelo é modelo", esbraveja feito um Dunga. "Vera Fisher é modelo? Gisele Bündchen é miss?", irrita-se. Até porque o telefone não dá trégua. "Depois eu ligo para o Beto Carrero, depois."
Danilo tem razão. Miss é como Cinderela. É aquela que sorri, sonha com a paz, ama seu país e perde pontos na prova de maiô. "Que saco. O quadril das brasileiras ainda atrapalha", admite, sobre as polegadas a mais que já nos privaram de tantos títulos mundiais. Tsc, tsc.
O quadril largo, no entanto, pode ser uma boa desculpa para trazer à realidade as mocinhas que batem à porta do 23. Se derrubou a Marta Rocha "aquela da torta?" , imagine o que não faria às mortais que cruzam a Riachuelo. Pobres misses dos terminais.
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