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José Carlos Fernandes

Entre o Jumbo e o Pinheiros

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Dia desses, ofereci carona para uma conhecida que mora para os meus lados. Ela é da Vila Guaíra. Já na Kennedy, quis saber – "você fica na altura do Jumbo ou perto do Pinheiros?" Quá-quará-quaquá. "Você fala igual à minha avó", tive de ouvir. Eu estava mesmo variando. Mas de todo não foi mal. Aproveitei o acontecido em um teste ainda sem data de publicação. Chama-se "saiba se você está ficando velho". É simples: se chamou o Extra de Jumbo e o Paraná Clube de Pinheiros – gabaritou.

Já reuni um punhado de episódios ilustrativos sobre os sinais implacáveis da velhice – todos empíricos. Por exemplo, a gente descobre que está ficando coroa na hora em que vai comprar um caderno universitário e percebe que nenhum modelo tem a nossa cara. Ou só se encontra aqueles em que na capa está escrito Bad Boy, ou os que têm um rapagão surfando no Havaí, quando não uma foto do Rodrigo Santoro, com sorrisinho no canto da boca – vendendo saúde. Não dá. A saída é comprar e encapar com papel-tigre – outro sinal de que "o tempo passa, o tempo voa..."

Novelas – uma mania nacional – são outro índice infalível para medir a passagem dos anos, esse tirano. Atente. Aconteceu certa vez de me pegar papagaiando sobre um dos grandes folhetins do gênero – Selva de Pedra, de Janete Clair. Tempos idos. Fiz questão de destacar o trabalho da Regina Duarte, a Simone. E "sha-la-la rock and roll lullaby". Minha interlocutora só faltou pedir que lhe fizesse cócegas: "Cara, alô-ô, todo mundo sabe que quem estrelou Selva de Pedra foi a Fernanda Torres, se liga." O papo desandou. Você está ficando velho quando a segunda versão da novela das oito já parece antiga o bastante. Em vez de discutir, preferi arrancar – à unha – pelos das orelhas, o que já é chatice o bastante.

O cinema, sempre o cinema, idem – é uma baba para saber se os anos estão sendo muito velozes e furiosos. Certa feita, me flagrei falando com uma rapaziada sobre o premiadíssimo filme Amargo Regresso – cuja cena de amor entre Jon Voigt e Jane Fonda está entre as mais belas já feitas, pururu-parará... Foi em 1978 – praticamente outra era geológica. "Silêncio sepulcral". Quem? Alguém argumentou que o Jon Voigt era o pai da Angelina Jolie, e tudo bem, safou-se o loiro das trevas do esquecimento. Mas e a Jane Fonda? Dedos estalaram, até que alguém saiu com essa. "Ah, sei quem é. É aquela velhinha que deu entrevista à Veja..."

Pois é, se alguém disser perto de você que a Barbarella é uma senhora entrada em anos, azar seu – você está ficando velho. Idem quando a turma toda faz cara de paisagem ao ouvir falar de Elizabeth Taylor – a diva com olhos cor de violeta. Melhor dizer que se trata daquela que iniciou a carreira contracenando com a Lassie. "Ah, a Lassie, gracinha..." Dos astros caninos, isso é incrível, todo mundo sabe pra cachorro.

Por fim, um bom teste de idade deve recorrer ao uso de gírias. Se alguém fala "tudo joia?" ou "é uma lenha", ganha o carimbo da categoria "anos rebeldes". Disse "borogodó" ou "é fogo na roupa", vai para a categoria "anos dourados", e assim por diante. Acredito que não haverá melhor medidor do tempo do que o vocabulário jovem de cada época. É batata!

Resta saber de que serve tamanho empenho. Para nada - penso. Ou quase nada. Como disse sabiamente o Millôr Fernandes, só a velhice existe, já que a juventude é passageira. As vantagens do estágio passadista são muitas. Sabe-se mais palavras. Viu-se mais filmes. E pode-se olhar para a Jane Fonda perto dos 70 e enxergá-la, milagrosamente, ensinando aeróbica para o mundo. Lembra?

Pena que a turma das antigas não se dê muita conta de seu poder de revolução. Sugiro à categoria "enta" se coçar e fazer motins no varejo. Pode-se começar colocando na última moda a camisa azul-gralha do Esporte Clube Pinheiros. E estampar a Elizabeth Taylor na capa da um caderno universitário. Por fim, fundar uma confraria de assuntos aleatórios – a Turma do Jumbo. É, "velho", apareça lá para conversar.

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