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 | Foto: Liudi Hara – Arte: Gilberto Yamamoto
| Foto: Foto: Liudi Hara – Arte: Gilberto Yamamoto
  • Interior da Capelinha de Santo Antônio no Umbará - não mais de 40 pessoas
  • Detalhe do altar da Capelinha de Santo Antônio. Local também é dedicado a Nossa Senhora das Graças
  • Frontão da Capelinha de Santo Antônio, no Umbará. Em relevo, o ano de fundação e as iniciais de Victório Bobato, o construtor
  • Panorâmica da Capelinha de Santo Antônio do Umbará, localizada na altura do número 9 mil da Avenida Nicola Pellanda
  • Da direita para a esquerda, Lorena Cenci, Landa Bobato e Esmeralda Bobato, acompanhados de dois jovens da comunidade
  • Mais um detalhe do nicho de Santo Antônio. Devoção ao santo teve seu auge no final dos anos 1940

Lembro bem da primeira vez que vi alguém pagar tributos a Santo Antônio. Foi em 1979, no casamento de um primo. No meio da cerimônia, a noiva pediu licença ao padre e deitou flores e versos ao Toninho de Lisboa ou Toninho de Pádua, como queiram. Era uma promessa. O padre não é mais padre. Mas os noivos, até hoje dois pombinhos, são um desacato às ascendentes estatísticas de divórcios. A gente brinca que Santo Antônio ajudou a Lindalva, mas que a sorte grande foi do João.

Depois daquele casório, não parei mais de receber pistas de que há devotos de Santo Antônio em todos os rincões. Não são a rigor católicos de missa. Tampouco doidos para casar. É um troço complexo, de natureza tão cósmica quanto pragmática, entende? Eu não. Suspeito, às vezes, que é a maior confraria secreta do planeta, pois não passa um ano sem que um "antoniano" inesperado se manifeste, prestes a flutuar enquanto confidencia as razões de sua paixão.

Recordo bem da Lina, uma portuguesa – solteiríssima, verdadeira diva de ópera – cuja casa estava tomada por uma coleção de Toninhos. Faria parar um trem para descer e comprar mais um. Recordo da Fátima, a quem há pouco conheci, dona da loja Depósito Santo Antônio, no Batel. Ou do Jair, douto da UFPR, mas que cultiva sua devoção como o mais piedoso dos romeiros. Por causa das conversas com o Jair, comprei um Santo Antônio da Fátima. Ainda vou virar um colecionista igual à Lina, rsss.

Esta semana conheci a Lorena Cenci, comerciante no Umbará. É fiel castiça, digna das melhores irmandades. Perguntei-lhe "por que Antônio?" Respondeu que é porque ele sempre tinha a certeza de que Deus estava a seu lado. Reza a tradição que tomou até sopa envenenada, tamanha confiança no Todo-Poderoso. Foi papo bom – inclusive com dicas sobre como invocar o santo para encontrar objetos perdidos. Tenho me virado bem com as "Salve Rainhas", infalíveis. Mas vou variar um pouco.

Graças à Lorena, realizei o desejo antigo: entrar na microminipocket capela de Santo Antônio que fica no fim da Avenida Nicola Pellanda, lá pelo número 9 mil. Ela tem a chave. O local é pequenino de fato - 35 metros quadrados. Espremendo bem, cabem 40 pessoas, sem respirar. Agora que a "Nicola" se tornou uma verdadeira BR infernal, mais gente está se dando conta da existência do templo em miniatura. Veem-no da janela do carro. Há quem se benza. Quem peça algo. Antônio nos torna pidões descarados.

As glórias de Antônio no Umbará tiveram início na década de 1940. A moradora Itália Bobato Rosa tinha uma imagem em casa, para uso doméstico, e alcançou uma graça, cujo teor é segredo de família. Em agradecimento, pediu a seu irmão, Victório Bobato, que construísse para ela uma gruta, para onde carregaria seu Toninho. Victório achou muito pouco, ora essa, e ergueu de vez uma capelinha. Tinha olaria – uns tijolos não lhe fariam falta. "Ainda bem que ela não pediu uma catedral", brinca o veterano Geraldo Bobato, filho de Victório.

Tudo indica que, ao ajudar dona Itália a pagar a promessa, Victório acabou conquistado para a horda dos confrades. Sua bela moradia colonial na "Nicola" foi batizada de "Vila Santo Antônio". No frontão da capelinha se pode ver, em relevo, o ano da inauguração – 1949 – e as iniciais do construtor, "V.B.", para todo o sempre, amém. É lugar sem luxo, mas único. No altar havia uma pintura, "mas como não era nenhum Michelangelo", garante Geraldo, levou uma boa demão de tinta. Ninguém esperneou ou gritou bestemmia.

Por umas boas décadas a capelinha de Santo Antônio virou point de uma festa para as crianças, uma vez por ano. Ao contar como era, Lorena Cenci, Mau­ro Bobato e outros que vivem ali só faltam cantar "Mérica, Mérica, Mérica". Seguindo o costume infame de torturar a imagem para obter ganhos, alguns umbaraenses o colocavam de castigo no poço – "só um pouquinho". Os lucros da quermesse iam para os pobres e para ajudar a comprar caixão de defunto. Uma desavença – sobre a qual não se dá um pio – encerrou a quermesse por uns bons tempos.

Santo Antônio da discórdia. Até que há uns 15 anos a turma do "deixa disso" convocou uma trezena da paz e assou um bolo para comemorar o 13 de junho. Era para os "de casa", mas costumam vir mais de mil convidados. Sem alarde, uma guria sempre se oferece para dar um bom banho no santo. Não custa nada, né. Foi ontem, aliás. Ano que vem, passando por ali, achegue-se. Pode ser seu dia de virar antoniano: há oito séculos é mais ou menos assim que acontece com gente feito você, e eu.

(Dedico esta coluna às Pias de Santo Antônio, que todas as terças-feiras distribuem pão para os pobres na Igreja do Bom Jesus.)

Capelinha de Santo Antônio do Umbará

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