Quem era criança no início dos anos 90 cresceu ouvindo uma espécie de mantra sobre o ex-presidente Fernando Collor de Mello, de que a única coisa boa de seu curto mandato foi a modernização da frota nacional. A dita evolução dos carros brasileiros veio depois de o alagoano, eleito em 1989 como caçador de marajás e tirado do poder sob acusação de corrupção em 1992, ter dito a frase “Os carros brasileiros são umas carroças”.

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O destempero de Collor com os Del Reys, Opalas, Santanas e Caravans – os nossos possantes da época – foi proferido após o hoje senador pelo PTB dirigir alguns dos veículos mais modernos do mundo em uma visita oficial à Europa, em 1990. Máquinas das mesmas marcas que a Polícia Federal apreendeu na residência de Collor em Brasília essa semana, como parte das investigações da Operação Lava Jato. O que nos leva a crer que o ex-presidente continua achando os veículos nacionais carroças.

O deleite de Collor com os carros modernos na Europa há 25 anos desencadeou duas mudanças na legislação

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Só o valor de três veículos apreendidos juntos – uma Ferrari, um Porsche e uma Lamborghini – chega a R$ 5 milhões. Preços tão altos que fizeram com que a fachada da Casa da Dinda, de onde Collor costumava sair paramentado de atleta para o deleite dos fotógrafos quando era presidente, voltasse às capas de jornais com policiais conduzindo seus carrões.

O deleite de Collor com os carros modernos na Europa há 25 anos desencadeou duas mudanças na legislação. A primeira foi a reabertura do mercado para importações em maio de 1990. Isso permitiu a vinda de novas marcas de veículos ao país, cujo mercado até então era limitado a Volkswagen, Ford, Chevrolet e Fiat. A medida encheu as ruas de Mitsubishis, Toyotas, Ladas, BMWs e outras marcas que até então não eram vistas por aqui. Entretanto, ainda havia uma barreira: a Lei de Informática.

Promulgada em 1984, a Lei de Informática proibia a importação de computadores com o objetivo de manter a reserva de mercado à indústria nacional. O problema é que, para beneficiar um setor, a lei prejudicava toda a cadeia produtiva nacional. Como a indústria automobilística, fadada a fabricar carros com tecnologia dos anos 70 por ter de operar com computadores obsoletos e caros.

Junto com a abertura de mercado, Collor tentou a revogação da Lei da Informática já em 1990. Mas ela só caiu dois anos depois, quando, finalmente, com tecnologia apropriada, as montadoras brasileiras passaram a poder produzir carros mais avançados, capazes de competir com os modelos importados.

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Em termos práticos, apesar de haver cerca de 50 montadoras no país hoje, a maioria dos carros brasileiros segue sendo carroças. Mas por causa da alta taxa de impostos, que obrigou a indústria a ter de criar os modelos Mil para poder oferecer no mercado um produto de preço acessível à população.

Por outro lado, se não fosse o chilique de Collor na Europa há 25 anos, talvez não tivéssemos disponíveis notebooks, tablets e smartphones de última geração. Pense nisso na próxima vez que seu computador travar e você o chamar de carroça.