O Hugo Harada, repórter fotográfico aqui da Gazeta, foi rápido. Assim que soube que eu iria entrevistar o Éder Jofre semana passada, pediu à chefia do departamento fotográfico se poderia trocar o horário de trabalho do dia seguinte e registrar algumas imagens do maior peso-galo da história, bicampeão mundial e único brasileiro no Hall da Fama do Boxe, nos Estados Unidos.
Antes de irmos a São José dos Pinhais, onde o campeão conheceria o projeto social do Macaris do Livramento, que ensina boxe a 250 crianças, fui dar uma pesquisada na carreira dele. E descobri que havia uma coincidência com o fato de o Hugo fazer comigo essa matéria: o único adversário que venceu o Galo de Ouro foi justamente um lutador de sobrenome Harada.
Masahiko Fighting Harada ganhou duas vezes do brasileiro. Em ambas as lutas – em 1965, quando o japonês tirou o cinturão do brasileiro, e no ano seguinte –, o resultado foi contestado. Tanto que, ao fim da primeira luta, Flávio Araújo, da Rádio Bandeirantes, narrou o resultado como vitória de Éder Jofre. Dizem que Araújo não estava errado, e sim os árbitros.
O único adversário que venceu o Galo de Ouro foi justamente um lutador de sobrenome Harada
Comentei essa coincidência com o Hugo a caminho de São José. Ele zoou, falando que Harada no Japão é que nem Silva no Brasil: tem para todo lado. Disse que quis fazer a pauta pelo pai, recém-falecido. “Ele era muito fã do Éder Jofre. Sempre falava das lutas, principalmente contra o nosso ‘parente’”, brincou.
Quando Jofre chegou, o Hugo foi logo se apresentando. “Prazer, seu Éder. Meu nome é Hugo e, não fique brabo, mas eu sou um Harada”. O campeão olhou duro e soltou: “E daí?”
O Hugo deve ter gelado e pensado: um murro desse velhinho deve doer uma barbaridade. Na sequência, Éder Jofre deu uma piscada para ele e soltou um monte de frases em japonês que nem o Hugo e nem eu entendemos. “Aprendi quando lutei no Japão”, explicou o boxeador, referindo-se às lutas com Fighting Harada – a primeira em Nagoya; a segunda em Tóquio. Em 1999, o brasileiro recebeu o algoz em São Paulo. Pelas fotos dos dois nos jornais, rindo, parece que não ficou ressentimento com o japonês.
Mesmo assim, o genro do campeão, Antônio Oliveira, que cuida do boxeador desde que ele começou a ter problemas de saúde, achou prudente o Hugo não vacilar. “Se esse japonesinho é mesmo Harada, melhor ter cuidado. O Éder esquece muita coisa, mas do tal do Harada ele não esquece, não”, brincou.
Oliveira se referia à encefalopatia traumática crônica (ETC), doença diagnosticada no lutador em 2014, pouco depois da morte de Bellini, capitão da Copa de 58 que sofria do mesmo mal, causado pelo excesso de pancadas na cabeça. O principal sintoma da ETC, também conhecida por síndrome do pugilismo, é exatamente o esquecimento.
No fim da entrevista, Jofre perguntou se o Hugo se chamava mesmo Harada, como o velho oponente. Ele confirmou e disse que tinha ido fotografá-lo por causa do pai. O campeão convidou o pai do fotógrafo a ir ao ginásio onde se apresentaria no dia seguinte. Mas o Hugo falou que ele havia morrido, no que o lutador o abraçou.
“Esse abraço teu pai vai receber lá no céu”, dedicou o campeão para o Hugo, provando que, definitivamente, Éder Jofre não guarda nenhuma mágoa dos Harada.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Deixe sua opinião