A imagem de Pelé chorando no ombro de Didi e sendo confortado por Gilmar após a vitória sobre a Suécia na final da Copa do Mundo de 1958 é emblemática. Naquele time não faltavam líderes para orientar a seleção e, principalmente, o garoto de 17 anos que se tornaria o maior de todos os tempos.
Além do meia e do goleiro, a seleção brasileira ainda tinha, em sua primeira conquista mundial, os laterais Djalma Santos e Nilton Santos e o volante Zito com total capacidade de comandar a equipe caso o capitão de fato, o zagueiro Bellini, merecedor da braçadeira, faltasse. Seis jogadores que não deixavam a peteca cair – como bem mostrou Didi ao pegar a bola na rede de Gilmar no primeiro gol sueco e sair com ela debaixo do braço acalmando a rapaziada. “Calma, pessoal, nós temos futebol para virar”, foi dizendo aos companheiros no caminho até o meio-campo, antes de o placar ser fechado em 5 a 2 para o Brasil e Bellini celebrizar o ato de erguer o troféu de campeão.
No último domingo, dia 14, Zito foi o último deste sexteto de líderes a partir. A morte do bicampeão mundial pelo Brasil talvez tenha sido a perda mais sentida por Pelé entre os companheiros que está vendo ir embora ao longo dos anos.
O Rei reconhece a importância que o amigo – que o “batizou” com o apelido de Gasolina quando chegou à Vila Belmiro com apenas 15 anos – teve em sua vida. “Ele foi uma figura paterna para mim”, resumiu Pelé em nota sobre a perda do companheiro de Santos e seleção.
Faltou um Zito na quarta-feira para lembrar Neymar de que ele estava em campo para jogar bola
Como jogador mais experiente, Zito teve de ser duro com Pelé em diversos momentos. “Joguei dez anos com Pelé, empurrando, ajudando, exigindo, xingando e sendo xingado por ele”, declarou Zito em depoimento ao jornalista Jorge Vasconcelos no livro Recados da Bola. Não aliviava com o camisa 10 nem quando ele já havia conquistado o status de ídolo internacional. Para Zito, no campo, não interessava se Pelé era o Rei. Tinha de jogar.
Situação completamente diferente da de hoje na seleção.
No primeiro gol da Alemanha no 7 a 1 na semifinal da Copa de 2014, faltou um Didi para pegar a bola e acalmar o time. É bem provável que só isso não impedisse a desclassificação diante do bem armado time alemão. Mas também é provável que, se alguém tivesse dado uma sacudida nos jogadores, talvez a surra fosse menos dolorida. Mas o que se viu foi um time perdido, com cada um tentando e não conseguindo resolver a situação do seu jeito.
Assim como faltou um Zito na quarta-feira para lembrar Neymar de que ele estava em campo para jogar bola, e não para responder a provocações adversárias na derrota do Brasil para a Colômbia na Copa América. Algo que Thiago Silva e David Luiz, os chorões da Copa, já provaram que não são capazes de fazer.