Rebaixamento. Palavra que até essa semana só assustava os torcedores de futebol agora preocupa também a população em geral, com a decisão da agência internacional de risco Standard and Poor’s de rebaixar a nota de crédito soberano do Brasil. Em português claro, o rebaixamento quer dizer que o governo brasileiro perdeu o selo de bom pagador e entrou em uma espécie de Seproc dos países: só vai conseguir novos investimentos se realmente der todas as garantias de que tem como arcar com suas contas. Agora é preto no branco ou nada feito.
Temos uma longa e difícil Segundona pela frente
Pode parecer tola a comparação, mas é mesmo como no futebol. A equipe que cai da Série A para a Série B do Brasileiro não perde só dentro de campo. Perde também – e muito – em investimentos. Só de direitos de transmissão na tevê os 20 clubes da primeira divisão dividem um bolo de aproximadamente R$ 1 bilhão (que é muito mal dividido, diga-se de passagem, mas essa é outra história). Na Segundona, não chega a ser nem um bolo, é só uma pequena fatia: apenas R$ 51 milhões também divididos por 20 clubes. O que dá só 5,1% do valor total de quem disputa a elite do futebol nacional.
Isso sem contar a perda de patrocinadores e de público. Afinal, disputar a segunda divisão não é a mesma coisa que enfrentar os maiores clubes do país. Seja pela menor exposição das marcas que vão nas camisas dos times, seja pela falta de interesse do torcedor em pagar para ver partidas de menor prestígio.
A comparação da administração pública no Brasil com as nossas equipes de futebol não fica somente nisso. Na realidade, a gestão dos times nacionais é um microcosmo do que se passa nas três esferas da nossa governança. Muito do que se erra nas gestões federal, estadual e municipal se erra também na condução dos times. Dirigentes confundem bens públicos com particulares – um eufemismo para roubo –, endividam as equipes e deixam a conta (alta, muito alta) para que a próxima diretoria se vire, não cumprem ajustes dentro da própria administração, vivem envoltos de lobistas (no caso, empresários) e não são muito dados a prestar contas.
Tudo o que se espera que a Medida Provisória 671, a MP do Futebol, sancionada recentemente pela presidente Dilma Rousseff, bote fim. Tudo o que se espera que a própria presidente, governadores e prefeitos também façam nas suas próprias gestões. Afinal, temos uma longa e difícil Segundona pela frente. E, assim como no futebol, Série B exige organização, mas também uma boa dose de coragem e determinação para se chegar ao acesso.
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