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marcos xavier vicente

Viver do que se gosta

Quantas vezes você, na fila da lotérica, não se pegou sonhando com o que faria se acertasse em cheio os seis números da Mega-Sena e levasse para casa aquela bolada milionária?

A primeira coisa que vem à cabeça de muita gente é largar tudo e viajar o mundo. Conhecer novos lugares, novas pessoas, ter novas experiências. Ver com os próprios olhos tudo aquilo de que a gente só sabe a respeito lendo os jornais, as revistas e os sites.

É exatamente isso o que a jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich, anunciada na última quinta-feira a vencedora do Nobel de Literatura, a primeira autora de não ficção a vencer o prêmio, com posição crítica aos governantes de seu país desde os tempos da União Soviética, pretende fazer. Com a diferença de que ela não vai viajar por diversão. Vai a trabalho, em busca de novas histórias.

Tanto quanto o reconhecimento do título concedido pela Academia Sueca, Svetlana Alexievich, a 14.ª escritora a conquistar o Nobel, a primeira com textos jornalísticos, não escondeu a satisfação de receber também o valor de 8 milhões de coroas suecas, o equivalente a R$ 3,7 milhões, da premiação. Afinal, graças a esse dinheiro, a jornalista poderá engrenar novos projetos, novas viagens em busca de relatos para livros futuros.

com a projeção do Prêmio Nobel, daqui a pouco Svetlana Alexievich vai conquistar lugar de destaque nas vitrines das livrarias por aqui

Segundo a própria autora, cada obra sua leva de cinco a dez anos para ser concluída, entre entrevistas e redação. Para produzir seu principal título, o livro-reportagem Vozes de Chernobil – A História Oral de um Desastre Nuclear, Svetlana ouviu 500 sobreviventes do acidente na usina da Ucrânia que assombrou o mundo em 1986. Foram dez anos de pesquisas e entrevistas. E uma década, imagino eu, seja tempo demais, uma aposta alta para uma editora aceitar bancar um autor na produção de um livro.

Viver do que se gosta já é algo satisfatório por si só. Mas viver bem fazendo aquilo que se gosta, com condições de investir em projetos de sua própria autoria, da maneira como você imagina, deve ser muito mais agradável. E é isso que Svetlana vai fazer com o dinheiro que ganhou do Prêmio Nobel de Literatura.

“Tenho ideias para duas novas obras, então estou feliz porque agora vou ter a liberdade para trabalhar nelas”, declarou à imprensa a escritora da Belarus.

Com livros traduzidos em cerca de 40 países, a obra de Svetlana Alexievich não é conhecida no Brasil, onde ainda não foi publicada – apenas um livro dela foi traduzido para o português, O Fim do Homem Soviético – Um tempo de Desencanto, pela Porto Editora, de Portugal. Mas, com a projeção do Prêmio Nobel, daqui a pouco a jornalista vai conquistar lugar de destaque nas vitrines das livrarias por aqui.

Assim como espero que sirva de exemplo para aqueles que sonham com a Mega-Sena na fila da lotérica: ter condições de investir naquilo que se gosta é bem melhor do que ter condições de ficar sem fazer nada.

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