De manhã, nem tinha sentado para escrever este texto e já contabilizava contatos com quatro amigos através de mensagens eletrônicas; um telefonema, vários sustos ao ler o jornal e uma despesa inesperada no orçamento doméstico (a bicicleta do filho quebrou).
Por algumas horas seria bom não saber o que está acontecendo. O fluxo contínuo de informações que a internet trouxe para nossas vidas nos cansa. Não confinamos a experiência de nos informarmos sobre o mundo àquela hora que passávamos sentados em frente a um jornal ou ao rádio ouvido durante as idas e vindas de automóvel. Esse era o mundo ontem. O mundo hoje é informação o tempo todo porque os intervalos dentro do fluxo de comunicação se tornaram muito menores. Só me comuniquei com quatro amigos em poucos minutos porque não precisamos ir até o telefone preso na parede nem pegar a agenda para conferir o número. É tão fácil que fazemos a toda hora.
De tempos em tempos é preciso parar e ficar quieto. Quieto de verdade, sem receber novos estímulos
Minha amiga de Brasília manda mensagem para falar de um assunto qualquer e se diz “perplexa com o que está rolando”. Tem tanta coisa rolando que respondo com naturalidade, acreditando saber a que ela se refere. Pensei que era o escândalo de quinta. Mas ela falava do escândalo de sexta. Trombo na notícia por acaso. Um ex-presidente estava sendo levado pela Polícia Federal para depor. O que “está rolando” é grave, de fato, e sou contaminada pela perplexidade.
Quanto à dinâmica que rege nosso cotidiano, mesmo eu, jornalista acostumada com ambientes de trabalho que giram em torno do fluxo de informações, acho a velocidade excessiva.
De tempos em tempos é preciso parar e ficar quieto. Quieto de verdade, sem receber novos estímulos. Apaziguar a mente, calar o barulho que faz lá dentro, para não sair falando besteira. Quanta besteira já falei, meu Pai! Quantas opiniões “nada a ver” formuladas à luz dos acontecimentos, impulsionadas pelo bombardeio de informações! Reação ao estímulo, só isso. O ruído se interpõe entre nós e a “verdade do ser”.
Não cravo que nossos dias são piores que outros porque não acredito nessas comparações. Não temos neutralidade emocional para fazê-las e, quando chegamos perto de tê-la, os fatos já foram borrados pelo tempo. Quem disso que sabemos tudo ou que lembramos tudo? Nem de como éramos lembramos direito.
Mas que nossos dias são confusos, isso são. Não só porque o Brasil está mais uma vez mostrando sua pior cara, mas porque a tecnologia favorece a futilidade extrema. No momento, as duas coisas se misturam.
Mais tarde, no restaurante, que é grande como uma cantina industrial, noto os olhos das pessoas voltados para a tevê. Cuidado, garçom! Se não olhar para a frente vai derrubar esses copos! Aletheia, a verdade do ser, segundo Heidegger, que também a chamou de “clareira”. O que será que cada um cochicha, entre garfadas, depois de ver as imagens da clareira que se abre à força na vida pública brasileira, com golpes desferidos a partir de Curitiba? Melhor nem saber. Seja a favor ou contra, só deve haver mágoa e rancor nos comentários. Me sinto na obrigação de explicar aos meus filhos o que está acontecendo. É triste e constrangedor. Queria que eles tivessem uma ideia melhor do Brasil.
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