Quando eu liguei a tevê tudo, tudo
tudo estava virado.
A menina voava,
não como um pássaro.
Não! Nada tão banal.
A menina voava e fazia estripulias no ar,
diabruras de nome alemão, russo, japonês,
Stützkehre, Tkachev, Tsukahara.
de nome brasileiro, de todos os Santos.
Só o que nós sabemos é que a menina voa
fazendo twist, flic-flac, mortais, rodopios, poses sensuais.
A menina voa.
Eu, que sempre pensei que os humanos não voassem, vejo as meninas que voam, que dançam no ar,
imaculadamente tesas, maravilhosamente curvadas, as meninas voam.
Entre um giro de quadris e uma parada de mão, ouço a voz de Baby:
“Eu vou lá
no canto do cisco
no canto do olho
a menina dança”
Canta para elas, Baby, as meninas que voam
Dani, Rebeca, Jade, Flavia, Lorrane, que dançam
lindas, sérias, doloridas
divertidas, técnicas e coloridas,
as meninas voam.
É tanto espanto que “apenas viro me viro
mas eu mesma viro os olhinhos”
e continuo a admirar o voo
da menina negra, da menina mulata, da menina branca
da russa, da japonesa, da americaninha.
Cabelos de princesa
vaidades de bailarina.
Quando fecho os olhos para lembrar e escrever,
A menina ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiar.
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