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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Ouço no rádio alguém que se apresenta como um especialista em tendências dizer que blogs e Twitter já eram. Viraram moda e agora estão prestes a virar passado porque outras tecnologias estão vindo por aí para tomar seus lugares. Como é difícil ser moderno! Nós nem entramos na nova onda e ela já passou. Talvez seja mais honesto eu dizer "passou, felizmente, e eu nem tive tempo de embarcar nessa."

Que preguiça de ser moderno... Dá muito trabalho. Você precisa rastrear novidades, consumir seu tempo tentando en­­tender como algo funciona (é mais fácil pedir se alguém te ex­plicar, mas os pioneiros têm de fazer tudo sozinho) e, mesmo assim, sempre haverá alguém mais atualizado que você.

Quem gosta muito de tecnologia ou faz questão de seguir tendências acha tudo muito natural e fácil. Mas, no fim das contas, a atualização permanente é custosa porque exige que se dedique tempo a ela em leituras, testes, preenchimento de formulários on-line, buscas. Quando você domina totalmente a ferramenta, vem a próxima novidade e é hora de começar tudo de novo para ficar "na crista da onda".

A expressão é antiga, mas muito apropriada. A crista da onda vem primeiro, na pontinha dianteira daquela massa de água que vai mudar por alguns segundos a paisagem de um pedaço da praia. Depois a onda é absorvida pelo mar, há um recuo, e tudo começa de novo. Os especialistas em tendências devem observar o mar para se inspirar.

Nós, os preguiçosos da modernidade, também observamos o mar. Só que somos tentados a ficar mais tempo por ali, na contemplação. Vai e vem, perfeição e beleza. Sem esforço. O mundo ideal. Mas chega uma hora em que temos de nos levantar e nos pôr em movimento, voltar ao mundo habitado pelas "tendências". O escritor José Saramago tem um blog atualizado diariamente. Entre lá (blog.josesaramago.org) e você verá todos os dias um novo texto do português de 87 anos. Pelo que se depreende dos relatos de Saramago, ele nem chega perto do aparato tecnológico que o blog exige. Seus assistentes é que postam o texto e providenciam as imagens. Está certo o português que não perde tempo com irrelevâncias. Deve ser isso que o presidente Lula vai fazer, agora que está se tornando blogueiro e twitteiro. No caso de Lula, provavelmente caberá a seus assessores escrever os "ditos". Não vai nenhuma crítica nisso. Ninguém elege um presidente para ele virar blogueiro. Sabemos que as facetas modernas das comunicações presidenciais não passam disso: uma forma de mostrar-se moderno, conectado. A mensagem nem conta.

Aliás, esta é uma razão para a preguiça de ser moderno: 99% das mensagens que circulam nas novas tecnologias são dispensáveis. São lixo, para falar em português claro. A outra boa justificativa para a preguiça é a consciência de que também a tecnologia logo será lixo. Com tanta coisa boa que se pode fazer na vida, conviver com muita transitoriedade e irrelevância é um baita desperdício.

Marleth Silva é jornalista.

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