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Chega um ponto nas grandes crises nacionais em que as pessoas desistem de acompanhar tudo o que acontece, de entender tudo. O volume de informação cresce a tal ponto que sempre escapa algo. São muitos os envolvidos, cada um com seus erros. Alguns com erros e acertos. É mais fácil adotar um lado e se concentrar na sua defesa. Ou focar no ataque ao outro lado.

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Alguns de nós chegam mais cedo a esse ponto em que se adota um ponto de vista e, a partir daí, danem-se os “detalhes”. Outros resistem, tentando abraçar o quadro geral. Mas, quando chega o olho do furacão, uns e outros se dão conta de que só quando ele passar será possível avaliar o estrago.

Um exemplo? Pegue um livro sobre a Primeira ou a Segunda Guerra Mundial. Com tantas alianças e parcerias que se montavam e se desmontavam, com países que assumiam o papel de protetores em um território e de dominadores em outro, que combatiam a crueldade de um inimigo em uma frente e que eram cruéis em outra... Com tudo isso, era difícil para o cidadão formar opinião. A não ser que simplesmente adotasse um lado. O que, em se tratando de um país em guerra, é mais fácil.

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O auge de uma crise política é quando menos se pesa os atos de cada envolvido. É o momento em que os dados já foram lançados e vão caindo conforme a força que puseram neles. Não há o que fazer.

Só quando o furacão passar é que será possível avaliar o estrago

A História, como ciência, tira parte de sua força dessa confusão que cerca os grandes momentos da vida de um povo. Alguns de nós continuam querendo entender o que houve mesmo depois que a poeira baixou. Queremos algo mais do que as nossas próprias conclusões impressionistas. Impressionistas como os quadros de Monet, que são feitos de manchas.

Nossa memória é feita de manchas. Mais ainda quando se trata da vida política de nosso país, que é difícil de acompanhar e sobre a qual cada parte envolvida cria sua própria narrativa.

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Sabe o que faz falta nessas horas? O hábito de ler, de se sentar com um livro nas mãos. E, se ele não resolver nossas dúvidas, pegar outro livro e outro e outro. A história que está nos livros – seja ela feita por historiadores, jornalistas ou testemunhas dos fatos – não explica tudo. Mas nos faz menos tolos, não nos deixa esquecer.

Quando fatos importantes acontecem no Brasil, há um ciclo de registros. Primeiro, é a notícia, o jornalismo. Em seguida, antes mesmo que a crise se dê por encerrada, surgem uns poucos livros, geralmente escritos por jornalistas. Na terceira etapa, logo que a crise acaba, surgem outros livros também feitos por jornalistas – os melhores demoram mais para surgir porque são mais trabalhados. Na quarta etapa, começam a surgir os livros dos historiadores. Nesta altura, a maioria das pessoas não está mais interessada no assunto. Em pouco tempo, mesmo os que acompanharam o noticiário esquecem boa parte das informações, ainda que lembrem do grande cenário.

Foi assim com todo o governo Collor: da campanha que o elegeu (a despeito de haver candidatos melhores), passando pela corrupção (que incluía uma “República do Paraná”, formada por políticos aqui do estado próximos ao presidente) e chegando ao processo de impeachment. Há alguns títulos sobre aquele período. Um ou outro vendeu bem.

A política se beneficia do nosso esquecimento. Nós somos prejudicados por ele.

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A beleza das palavras, 1. Ya’aburnee: termo árabe que significa “você vai me enterrar”. Expressão do desejo de não ver o outro morrer; uma forma de dizer “não posso viver sem você”.