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Um dos livros mais vendidos neste ano no Brasil conta a história de um pai que não sabe mais o que fazer para estimular o filho adolescente a estudar. Chama-se O Clube do Livro e o autor é um crítico de cinema canadense chamado David Gilmour. O filho era um rapaz tranquilo, mas não se interessava pela escola e suas notas iam de mal a pior. Desa­­ni­­mado, o pai toma uma decisão radical: deixa que ele abandone a escola aos 15 anos e só impõe uma contrapartida: terá de assistir a três filmes por semana na companhia do pai. Gilmour pretendia que, com isso, o filho, que não estaria mais recebendo educação formal, ao menos tivesse contato com uma expressão artística e fosse provocado a fazer alguma forma de reflexão sobre o mundo.

Não sei o que está por trás do sucesso do livro: se é por funcionar como uma espécie de enciclopédia simplificada de cinema, já que o autor fala um pouco de cada filme que eles viram, ou se é porque muitos pais e jovens querem saber se é possível en­­contrar luz fora da escola.

A experiência do canadense é radical demais para a maioria de nós, mas pode inspirar um caminho alternativo: enquanto o adolescente se arrasta na escola, não con­­seguiríamos ajudá-lo a de­­senvolver algumas qualidades e virtudes aproximando-o de um mundo paralelo, como a leitura, o cinema, outras formas de arte, o esporte, o voluntariado? Porque é fato que adolescentes e jovens têm dificuldade para entender a utilidade daquilo que lhes é apresentado na escola. A famosa pergunta "pra que serve isso?" é um sintoma. Adultos que voltam a estudar conseguem ver aplicabilidade nos conhecimentos porque estão fazendo o caminho inverso. Conhecem a prática e um pouco de teoria ajuda a entender melhor o mundo em que se movem. Mas aprender teorias ou operações matemáticas complexas é, para um cérebro muito jovem, algo sem sentido. A não ser que (a) ele seja muito curioso ou (b) estude na crença de que isso é a coisa certa a fazer ou de que o esforço lhe abrirá portas no futuro. Futuro, como sabemos, é uma abstração para quem só está no planeta há 15 anos.

Ao longo do livro, enquanto toca seu projeto, Gilmour tem momentos de quase pânico quando imagina o filho, no futuro, ganhando a vida como motorista de táxi (no Canadá, é um trabalho quase exclusivo de imigrantes sem formação) e fumando maconha. É nessa hora que a maioria dos pais se identifica com ele. Que medo, que pavor te­­mos de ver nossos filhos desperdiçarem seus talentos e suas opor­­tunidades! Por zelo, queremos avaliar constantemente se eles estão indo pelo bom caminho. Mas os caminhos da vida são variados e o que eles escolhem nem sempre é bem aquilo que tínhamos imaginado. Um não veio ao mundo para realizar os sonhos do outro. Veio para experimentar e descobrir e isso inclui ficar desnorteado de vez em quando. Mas como a paciência, nesses casos, é o melhor re­­médio, a história contada por Gilmour acabou bem. O rapaz percebeu que precisaria de mais formação para realizar seus sonhos e voltou à escola. As ho­­ras que eles passaram juntos, vendo filmes e conversando, aproximou ainda mais os dois, que sempre se deram bem. Hoje o filho escreve roteiros para cinema e o pai não tem tanto com o que se preocupar.

A respeito da minha crônica sobre os quintais curitibanos pu­­blicada há duas semanas, dois leitores levantaram aspectos interessantes. Ida Bonamigo relaciona o desaparecimento das áreas ajardinadas com as enchentes, já que a impermeabilização do solo vai se tornando um padrão na cidade. O professor Roberto Figurelli vê um adensamento urbano injustificado por trás da proliferação de condomínios de sobrados sem quintais, como se Curitiba sofresse da mesma falta de espaço de cidades gigantes, como Tóquio. Além do mais, os preços desses novos imóveis são exorbitantes, espanta-se o professor. Acho que ambos têm razão.

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