| Foto: Gilberto Yamamoto

A inglesa Elizabeth Barret Browning, autora dos versos que uso como título para este texto, fez a proeza de conquistar fama e reputação com seus poemas ainda jovem. O soneto 43, que começa com os versos do título, foi traduzido para o português por Manuel Bandeira. Faz parte do livro Sonetos da Portuguesa, que está nas livrarias em uma nova edição da Rocco, a qual traz um ótimo posfácio preparado pelo poeta e tradutor Leonardo Froes.

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No posfácio, Froes fala da outra proeza de Elizabeth Barret Browning: ter vivido uma vida que merece ser contada.

Ela nasceu em 1806 em uma família inglesa que prosperou explorando fazendas na Jamaica; era uma família numerosa (12 filhos) cuja mãe morreu jovem. O pai, sabe-se lá se por excesso de zelo ou se por egoísmo, proibiu os filhos de se casarem.

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Aos 40 anos, poeta reconhecida e mulher enclausurada que era, Elizabeth recebeu a carta de um admirador de seus versos que foi logo se declarando apaixonado por ela. Era Robert Browning, 32 anos e poeta em tempo integral, mas ainda no esforço de construir uma reputação.

Os dois iniciaram uma troca de cartas que evoluiu para uma paixão ardente, mas não concretizada. É que a desconfiada Elizabeth levou meses para permitir que Robert a encontrasse pessoalmente. As cartas foram publicadas e são lidas hoje como peças literárias de grande valor (não estão disponíveis em edição brasileira). Meses após o primeiro encontro e muitas cartas depois, os dois se casaram às escondidas e fugiram para a Itália. Elizabeth levava com ela sua ama, senhorita Wilson, e o cachorro Flux. Segundo Froes, Flux virou personagem de Virginia Wollf, que contou essa história de amor usando o cão como narrador. Como Froes traduziu Virginia Wollf, sabe do que está falando. Me fio nele porque não localizei o texto em livrarias. Ou seja, mais um título não disponível em edição brasileira.

Mas voltando a Elizabeth, há outro aspecto de sua história que chama a atenção. Os coadjuvantes de sua love story são personagens de primeira grandeza. O pai, que não perdoou a filha (ele nunca abriu as cartas que ela lhe mandava e deserdou-a, assim como aos outros três filhos que ousaram se casar). A ama, que acobertou o namoro de Elizabeth e Robert e fugiu de seu país para acompanhá-los na fuga – será que esta senhorita Wilson não tinha uma vida própria ou a vida dela era amar e servir sua patroa? John Kenyon, outro personagem e tanto: era um parente que estimulou o namoro e ajudou financeiramente o casal. Foi ele que falou de Elizabeth para Robert e convenceu-o a procurá-la.

E há o filho, Robert Browning, que ela pariu aos 43 anos, e que tratou como um dandi e que, adulto, tornou-se um pintor competente, ainda que nunca tenha alcançado o reconhecimento que o pai e a mãe conquistaram. São todos grandes coadjuvantes. E digo isso sem medo de parecer contraditória porque está claro que coadjuvantes também podem ser importantes.

Robert Browning, o marido, é certamente um protagonista. Tomou a iniciativa de procurar a enclausurada Elisabeth, casou-se com ela à revelia dos comentários maldosos que o descreviam como um interesseiro (Elizabeth tinha dinheiro; ele não). Fez mais. Estimulou a produção literária da esposa, mesmo quando ela ousava falar de aspectos pessoais de sua vida, que não figuram entre os temas presentes na poesia europeia do século 19.

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Quando tudo indicava que Robert Browning havia se colocado na posição de coadjuvante na história da literatura inglesa, ele, após a viuvez, escreveu muito, desenvolveu um estilo pessoal e se tornou um poeta respeitado. Nos países de língua inglesa, os poemas do casal são conhecidos por qualquer um que passou pelos bancos escolares ou que frequenta bibliotecas.

Tampouco há edições brasileiras dos poemas de Robert Browning – aliás, essa pobreza do nosso mercado editorial é a nota dissonante nesta história. Pelo menos agora podemos ler os poemas de Elizabeth, que amava Robert de vários modos.