| Foto: Felipe Lima

Faz frio ou calor neste momento, leitor? Chove?Há uma semana, a tarde estava mais para primavera do que para inverno, quando entrei na loja de conveniência de um posto de gasolina para pagar o combustível. A moça do caixa me recebeu com um comentário sobre o tempo: "Que calor horrível, né?". Não era horrível, mas concordei com a cabeça. Nisso um frentista que andava por ali entrou na conversa. "Esse lugar está sempre muito quente ou muito frio. Temos que fazer uma marcha para pedir ao patrão um ar-condicionado." A colega dele concordou, entusiasmada. "É, vamos fazer uma marcha!"

CARREGANDO :)

Sai da loja olhando em volta para descobrir quantas pessoas trabalham naquele posto e calcular o tamanho da marcha. Considerando que em geral uns 5% dos interessados no assunto vão para as ruas protestar, eu diria que aquela seria uma marcha de um homem só. O frentista marcharia sozinho em torno das quatro bombas de combustível, gritando palavras de ordem. Quem sabe se ele divulgasse o movimento até atrairia muitos curitibanos – quiçá muitos paranaenses – para a Marcha pelo Ar-Condicionado. Ou talvez para a Marcha pelo Aquecimento Central (não confundir com aquecimento global, que este já recebe muita atenção).

Todo mundo se queixa de que passamos mais frio dentro de nossas casas do que os europeus. Não é exagero, mas nem por isso vou aderir a tal marcha. Não me entusiasmo com ar-condicionado nem com aquecedores. Gastam muita energia elétrica. Antes de apelar para eles, ainda temos a alternativa de revisar as edificações para torná-las mais adequadas para o nosso clima. Os europeus não passam frio dentro de casa não só porque têm aquecimento, mas também porque seus imóveis são apropriados para barrar a entrada do ar gelado. Têm janelas duplas, carpetes altos (que os brasileiros sempre classificam de anti-higiênicos) e não têm frestas. Eu morei em uma casa em Curitiba em que as frestas nos caixilhos das janelas e das portas eram tão largas que deixavam entrar grandes réstias de luz, que apareciam anunciar a chegada de um profeta. Onde entra luz entra ar frio, não é?

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Decerto o grande desafio para os arquitetos e engenheiros é manter a casa fresca no verão e agradável no inverno. Mas não deve ser missão impossível. Ponho fé na engenharia e na arquitetura, que são capazes de coisas incríveis, conforme qualquer um de nós, leigos, pode comprovar nos programas do Discovery Channel sobre o tema, que sempre assisto e recomendo.

Quanto à Marcha do Aque­­­cimento Central, ela tem chances de reunir muitos manifestantes porque temos visto uma disposição incrível do povo brasileiro para marchar por causas que envolvem questões pessoais, quase íntimas. Está aí, para comprovar, a Parada Gay, a Marcha das Vadias, a Marcha da Maco­­nha, a Marcha para Jesus. Todos os que participaram desses movimentos poderiam se juntar, em um exemplo bonito de convivência, e ajudar o frentista na sua Marcha pelo Aque­­cimento Central.

Quanto ao título deste texto, é só uma provocação. Pelo que sei a proposta do frentista não emplacou ainda.