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Marleth silva

É só uma história meiga, uma história de amor

 | Felipe Lima
(Foto: Felipe Lima)

As histórias de amor duram para sempre. “Não há cura para o amor.” O que acaba é o relacionamento, o namoro, a paixão, a vida. Esta história de amor que conto aqui, ao meu modo, é também sobre poesia. Que palavras escolher para se despedir de uma pessoa amada, que está morrendo? As mais simples, as mais diretas. As palavras entre aspas neste texto são de Leonard Cohen.

Buscando sol e silêncio para escrever seus poemas, o jovem Leonard encontra a ilha de Hidra. Lá vive Marianne. Os dois passam oito anos juntos. Nesse tempo brigam, ele trai Marianne. Marianne trai Leonard. Ela tem ciúmes. Ele faz sucesso com as mulheres. Ela se descontrola, faz cenas. Mas sempre, sempre “ela mantinha uma gardênia na escrivaninha” onde ele trabalhava, que perfumava toda o quarto. Oferecia um sanduíche quando ele escrevia até tarde. “Doçura, doçura.”

Devagar, o relacionamento foi acabando, “como cinzas que caem no chão”.

Que palavras escolher para se despedir de uma pessoa amada, que está morrendo?

Cada um foi para um lado e eram lados distantes geograficamente. “Adeus, Marianne, adeus, é hora de rir, é hora de chorar.” Mas trocavam cartas, depois e-mails. Passaram-se anos, décadas, cinco décadas. Marianne não contou que estava doente, que tinha câncer. Leonard soube através de um amigo, que avisou que ela vivia seus últimos dias. Ele enviou um e-mail:

“Bem, Marianne, chegou aquele tempo em que nós estamos velhos e nosso corpo está enfraquecendo e eu acho que logo seguirei você. Saiba que estou logo atrás, tão perto que, se você esticar seu braço, poderá tocar minha mão. Você sabe que sempre te amei por sua beleza e sabedoria, eu não preciso dizer nada mais sobre isso porque você já sabe. Agora eu só quero te desejar uma boa viagem. Adeus, velha amiga. Meu amor sem fim, te vejo logo mais.”

Dois dias depois, o mesmo amigo de Marianne escreveu avisando que ela havia morrido, que nas últimas horas estava cercada por pessoas que a queriam e que se manteve tranquila. Contou também que a mensagem de Leonard fora lida em voz alta para ela, que respondeu com um sorriso.

“Assim como há noites que ficam

Sem lua, sem estrela,

Assim ficaremos

Quando um de nós tiver partido.”

O amigo de Marianne perguntou se podia tornar pública a mensagem e Leonard concordou. Ficou surpreso quando muitas pessoas quiseram lê-la. Primeiro na Noruega, onde ela vivia, e depois em outros países. Mas não ficou bravo com a perda da privacidade. “É só uma história meiga”, explicou o agora octogenário senhor Cohen.

Suas canções, sempre comparadas com orações, ainda ocupam seus dias. Ele se diz uma pessoa de sorte, vivendo perto dos filhos e “em completo domínio das faculdades mentais”. Está colocando a casa em ordem – e por casa entenda-se a cabeça, a vida interior. “Colocar a casa em ordem é uma atividade reconfortante e os benefícios são incalculáveis”. Agora ele canta: “Eu estou pronto, meu Senhor.”

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