Se, no futuro, alguém quiser estudar o pensamento da família brasileira da década de 10 do século 21 precisará vasculhar as conversas de WhatsApp porque está tudo lá: o amor, a consideração, os desabafos, as pequenas maldades. Precisará vasculhar, mas naturalmente não conseguirá, porque não restarão registros desses diálogos. Eles são apagados ou esquecidos em velhos telefones. Será mais fácil para os historiadores e arqueólogos do futuro descobrirem o que a rainha Nefertiti comia nos seus almoços às margens do Nilo do que encontrar registros confiáveis sobre nós. Não haverá cartas nem fotos em papel e as conversas digitais terão desaparecido na nuvem, que provavelmente também terá se transformado em outra coisa. Como não temos o costume de registrar nossas experiências e pensamentos nas paredes, da forma que faziam os egípcios, deixaremos poucos rastros.
Sem a cópia em papel, o sorriso da foto é efêmero
É fato que 99,9% das conversas que circulam nos grupos de WhatsApp não merecem a eternidade. Boa parte delas divulga informações falsas ou piadas (sendo 93% delas sem graça). Acho particularmente simpáticas aquelas mensagens que pretendem apenas revelar que o remetente está vivo. Para isso ele manda um abraço, deseja bom dia ou envia uma figurinha qualquer. É como um sinal de fumaça: eu despacho uma figurinha (também chamada de emoticom) e recebo de volta outra figurinha. Simples e suficiente quando não se tem muito o que dizer. Com essas figurinhas nos aproximamos dos sumérios, que desenhavam pequenos símbolos em quadradinhos de argila: uma mãozinha, uma cobrinha... Algumas dessas tabuinhas têm mais de 5 mil anos e ainda estão por aqui, contando histórias.
Se as conversas das famílias contemporâneas fossem perpetuadas como as tabuinhas dos sumérios, dariam dor de cabeça aos historiadores do futuro. O pessoal muda muito de assunto dentro da mesma conversa! Minha vizinha e os primos criaram um grupo para organizar o aniversário da tia. Sem cerimônia, trocou-se de tema quando veio a notícia de que ela está muito doente. Pararam de falar da festa e agora compartilham informações sobre o estado de saúde da tia. O nome do grupo não foi alterado: “Vai rolar a festa”.
Como material de estudo, estas conversas via zapzap são um rico material: fala-se de tudo, de planos para o fim de semana até gravidez inesperada, das dificuldades do Junior com a matemática até resumo da última consulta à cartomante. Vizinhos de condomínio falam mal do zelador; pesquisadores trocam informações (os médicos que pesquisam o vírus chikungunya no Brasil conversam no grupo “Chikv, a missão”); alunos e professores negociam datas de provas e parentes conferem receitas de bolo. Troca-se fotos, muitas fotos. Tornar uma foto pública, seja distribuindo-a em um grupo de WhatsApp ou publicando em uma mídia social, se converteu na nova forma de registro visual. Registra-se todo e qualquer momento minimamente interessante, mas depois a imagem desaparece. Sem uma forma de arquivo digital mais confiável no longo prazo (existe alguma?), sem a cópia em papel, o sorriso da foto é efêmero.
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