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A velha senhora está no chão. Seu gigantismo é mais evidente do que nunca. É uma araucária centenária, belíssima, daquelas que têm um tronco perfeitamente circular e galhos concentrados na copa, lá no alto. Foi o último temporal que botou a árvore no chão.

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Como tem temporal nest e Brasil quente e úmido! Os temporais de verão são tão previsíveis quanto a lerdeza das cidades para se proteger deles. São carros que flutuam em enchentes, árvores que tombam, morros que desabam e araucárias – as lindas araucárias – que caem.

O professor Flavio Zanette entende de Araucaria angustifolia. Aliás, será que ele é a pessoa que mais conhece essa árvore no Brasil? "Infelizmente sou", me responde, quando lhe telefono em busca de ajuda. Por que a queixa? Porque ele não tem com quem compartilhar suas dificuldades de pesquisas, nem vê suas amadas araucárias receberem a atenção que merecem. Alunos esforçados aparecem lá na fazenda da Universidade Federal do Paraná, onde ele ainda trabalha após a aposentadoria, mas a falta de incentivo para a pesquisa leva esses jovens a procurar novas atividades, mais rentáveis. E o professor segue, sozinho, procurando tornar o pinheiro mais atraente economicamente e, assim, garantir que a espécie escape da extinção.

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Então o professor Zanette, aquele que entende de araucárias, tira minha dúvida. Um vendaval muito forte pode, sim, derrubar o gigantesco pinheiro. Se ele for saudável, quebrará lá no alto, onde aquela coroa de galhos e folhas vai receber o impacto do vento. Se não for saudável, as raízes cederão e ele tombará inteiro.

Foi isso que aconteceu com a velha senhora da Avenida Cândido Hartmann, uma ovelha desgarrada do bosque do Parque Barigui, que estava na calçada, quase atravessando a rua. Sim, eu sei, a árvore já estava lá quando colocaram a calçada e a rua. Aliás, a árvore já estava lá quando o senhor Cândido Hartmann, o Candinho, se postou atrás do balcão de um armazém para atender a clientela daquela região. Isso foi por volta de 1915. Dizem que o Candinho vendia fiado e emprestava dinheiro para os colonos que iam chegando, derrubando o mato daquelas paragens curitibanas para construir suas casas. Do mato, tiravam as araucárias que forneciam a madeira para suas residências espalhadas pelo Santo Inácio, Cascatinha, Bigorrilho, Orleans.

Quanta coisa testemunhou a gigante da Cândido Hartmann antes de tombar no último vendaval... Um bosque de pinheiros, chácaras, casas, condomínios; um parque, veredas, avenidas; carroças e automóveis – tudo isso foi aparecendo e desaparecendo enquanto ela crescia.

Agora está lá, ainda impressionante, mas no chão. Suas raízes expostas são enormes. Quem nunca havia reparado nela agora não pode deixar de notá-la. Daqui a pouco vai desaparecer, cortada em toras e levada por um caminhão para sua destinação final, ainda não revelada. Merece um fim nobre, o nobre pinheiro.

**Que semana estranha: o papa abdica, um meteoro assusta a Rússia e o Hugo Chávez reaparece. Vade retro, carnaval de 2013!

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