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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Todo ano, no mês de no­­vembro, recebo em casa um pacotinho com cartões de Natal que a Asso­­ciação de Pintores com a Boca e os Pés me envia. Se quiser, pago o boleto que vem junto e colaboro com a entidade. Mesmo que não pague, os cartões já são meus. E fazer o quê com eles? Não é que não tenha para quem enviar. Te­­nho amigos e parentes que vi­­vem em outras cidades. Mas pa­­rece que ir até o correio se tornou uma tarefa impossível. E olha que eu adoro correio: gosto de entregar a carta para o funcionário do lado de lá do balcão e sentir um medinho que ela se perca no meio do caminho; gosto de imaginar que o envelope vai chegar às mãos de outra pessoa – um objeto palpável e que leva minha letra. E-mails são infinitamente mais impessoais que as cartas. Não levam nada manuscrito, o suporte é uma tela sem nenhuma personalidade (não tem linhas, não tem amassadinhos, não tem borrões). Algumas pessoas tentam personalizar seus e-mails colocando fundos coloridos, imagens animadas e simbolozinhos. Sejamos francos: o resultado é bobinho, de mau gosto.

O tempo escasseia e não dou conta de escrever as mensagens nos cartões, anotar os endereços nos envelopes e postar. Não sou só eu. Já vi pessoas falarem de ir ao correio como sendo um deslocamento tão penoso quanto escalar o Mont Blanc. Deve ser porque muitos de nós não andamos a pé, não circulamos pelo Centro (onde há mais agências dos Correios) ou não temos tempo para outra coisa que não seja trabalhar ou usar o computador. Ou porque achamos novas formas de enviar mensagens e nunca mais iremos sentir necessidade de lamber um selo e colá-lo em um envelope.

No fim do ano passado, co­­nheci um novo modismo. Na noi­­te de 31 de dezembro, recebi muitas mensagens de celular com votos de felicidades. O re­­metente enviava o mesmo texto para várias pessoas que estão na agenda do seu aparelho. Mui­­to prático e ninguém fica com aque­­les cartões bonitos que dão dó de jogar fora. Em outros tempos, essas pessoas que estão mandando recados festivos por celular estariam enviando cartões de cartolina pelo correio. O conceito é o mesmo: aproveito esta data para mostrar minha consideração por você.

Aliás, esta seria uma boa mensagem para escrever no cartão ou no e-mail: "Aproveito esta data para mostrar minha consideração por você". Recado dado. Achar o que escrever, essa sim, é tarefa tão difícil quanto escalar o Everest. As frases mais pessoais são potencialmente desastrosas e as muito impessoais, do tipo "feliz Natal e próspero ano-novo"... Bem, são impessoais demais. Estão reservadas para o gerente do banco que prepara um cartão para acompanhar a agenda que dará para seus clientes. Entre amigos, não pega bem. Os cartões da Associação de Pintores com a Boca e os Pés não têm texto nenhum. Eu tasco logo um recado curto, do tipo "um ótimo ano para você" e distribuo para os vizinhos. Assim pulo esta parte difícil: ir ao correio. Sim, sim, é bem mais sem graça. E meus vizinhos devem me achar bem antiquada por ainda usar papel. Mas, compreendam! Tenho um compromisso com os pintores sem braço. Vai chegar um mês de dezembro em que eles terão achado outro jeito de ganhar dinheiro e não me enviarão o pacote de cartões. Aí eu jogo a toalha junto com eles. Por enquanto, resistimos.

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