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Pais e filhos estão condenados a repetir eternamente o mesmo roteiro. Cada geração se surpreende com a que vem depois, critica as mudanças, lamenta os rumos tomados. O estranhamento se dá em pequenos e grandes aspectos da vida cotidiana. Da forma de relacionar-se com o sexo oposto, de lidar com o dinheiro, de se posicionar no mercado de trabalho até os hábitos dentro de casa. Neste começo de século, mesmo os aparelhos eletrônicos causam estranhamento. É o menino que passa tempo demais jogando seus games eletrônicos. É a menina que não se desliga das mídias sociais. Tudo isso do ponto de vista dos mais velhos, é claro. Na geração do menino e da menina, ficar sentado em frente de um monitor dez horas seguidas é coisa normal, que não provoca nem uma piscadela de espanto.

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Seja lá de que lado da trincheira você estiver, um dia uma pessoa de uma geração anterior questionou suas atitudes e você também se pegou olhando com espanto ou desdém as "esquisitices" dos mais novos. Ou seja, estamos sempre dos dois lados da trincheira, só que nossos olhos críticos se voltam mais para quem vem depois de nós. Talvez sejam ciúmes.

Falando em trincheira, me lembro da Primeira Guerra Mundial. Parece que foi a partir dela que o mundo inaugurou a Era da Velocidade, esta em que estamos vivendo. Usar a guerra de 1914-1918 como parâmetro pode ser apenas uma referência cômoda já que retroceder ainda mais tornaria o raciocínio difícil. Não dá para cravar uma data, um momento em que as mudanças na sociedade se tornaram tão rápidas que, ao serem absorvidas na vida pessoal, fazem com que as gerações se tornem estranhas umas para as outras. Nosso raciocínio egocêntrico sempre acha que as coisas estão acontecendo agora, agora que estamos aqui. Pode ser que tenha sido sempre assim. Só piorou.

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A condessa de Grantham é uma das pessoas que defendem a tese de que a velocidade das mudanças se tornou difícil de acompanhar depois da Primeira Guerra Mundial. Ela é personagem do seriado inglês Downton Abbey, uma espécie de novela de época mais curta e mais chique. Em um dos episódios, a condessa (interpretada por Maggie Smith), que é uma ferrenha defensora do estilo de vida da aristocracia, põe no rosto aquela expressão típica de quem percebe que não há como resistir à realidade. À nova realidade. Um suspiro, o olhar perdido e o reconhecimento público de que há de se adaptar aos novos tempos.

Na essência, não mudamos tanto assim de uma geração para outra. Mas o ser humano no dia a dia não pensa na essência. Pensa no barulho irritante do videogame, nos namoricos da filha (por que tantos?), nas mudanças constantes de emprego do filho. Ou, invertendo o ponto de vista, pensa na implicância com o videogame e com os "ficantes", na incompreensão do mercado de trabalho atual. A vida prática, o dia a dia, são cruéis. Avós e netos podem estar 100% de acordo em tudo quando se trata da tal essência (as crenças e os valores), mas coloque todos eles embaixo do mesmo teto e aí será necessária uma dose extra de boa vontade para um tolerar o outro.

Não tem jeito. Todas as gerações constataram que o mundo de seus herdeiros era pior e estava caminhando para a tragédia. Até esse momento todas estavam mais ou menos certas e mais ou menos erradas.