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Já é fevereiro. Como este ano está passando rápido! Na verdade, não está passando mais rápido ou mais lento que qualquer outro, mas antes que alguém diga essa frase, digo eu. Pode ser que você ainda não tenha ouvido alguém dizer que 2010 está voando, mas até a Páscoa, garanto que ouvirá. "Nos­­sa, a Semana Santa está chegando! Quando a gente perceber, já será Natal". E quando chegar ju­­nho, dirão: "O primeiro semestre passou em um piscar de olhos. O ano está acabando".

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O problema com a velocidade do tempo é que ela nos parece maior que a velocidade da nossa vida. Estamos constantemente sempre atropelados. Se não deu tempo para eu fazer tudo que eu queria é porque o tempo foi curto (ou eu fui lenta, o que dá na mesma. Não estamos sincronizados, eu e o tempo).

Que medo, que pavor, de perceber que o tempo passou e eu não fiz nada de bom, de especial. Algo que valha a pena. Me vem à cabeça a frase do poeta: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Pena que de tão repetida, perdeu força. Diz uma verdade, mas foi desgastada pelo uso excessivo e, frequentemente, de mau gosto. Chego a duvidar de que Fernando Pessoa escreveu esse verso.

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Vou checar e então me lembro que já fiz isso uma vez. Não colocam tantas frases kitsch na boca de grandes escritores para dar a elas um verniz de respeitabilidade? Pois o verso da "alma pequena" é do português mesmo. Sobre quem, ao folhear as Obras Poéticas, tiro duas conclusões: para o poeta Pessoa a vida não foi pequena. Ele escreveu tan­­tos versos, tão inspirados e bem acabados, como eu levaria a vida toda e mais uns anos em­­prestados (se isso fosse possível) para fazer algo semelhante.

A outra conclusão é de que ele sofria com as mesmas angústias que nós, a turma que se apavora em fevereiro porque o tempo está voando. O homem fez várias referências ao passar do tempo ("Depois pensemos, crianças adul­­­­tas, que a vida passa e não fica, nada deixa e nunca regressa"). Qualquer página que abro, está lá: o tempo ("No breve nú­­mero de doze meses o ano passa, e breves são os anos").

O triste é que no caso dele, a vida foi curta mesmo: viver 47 anos, convenhamos, é de uma brevidade adequada aos poetas e atroz para os humanos. Talvez o tenha salvado a consciência de que só existe o presente, uma con­­vicção que ele es­­miuçou em versos ("Este é o dia, esta é a hora, este é o momento, isto é quem so­­mos, e é tudo"). Quem escreve isso deve estar motivado a viver sua vida sem procrastinações, sem preguiça ou autopiedade. Ou não? Só está meio deprimido?

O fato é que já é fevereiro. E de 2010! Para o leitor, essas datas talvez não lhe digam nada. Tal­­vez o leitor tenha 17 anos... Eu não te­­nho mais. Sendo assim, vou correr, que este ano está voando.

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