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Marleth Silva

O futuro não é do jeito que os Jetsons previram

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É fato que vivemos cercados de tecnologia para todos os lados e que ela faz coisas incríveis. Mas parece que uma obsessão mundial com telefones, tevês e computadores está consumindo toda a energia dos engenheiros e programadores e nos furtando do futuro com que sonhamos. Quero dizer, do futuro que alguns de nós imaginamos, especialmente aqueles que assistiam aos Jetsons. Quem foi criança nos anos 1970 cresceu com a convicção de que, em alguma altura de nossas vidas, teríamos um robô circulando em silêncio pela casa para deixar tudo limpinho. Aliás, o apartamento dos Jetsons era o lar mais limpo que alguém já viu, com aquele chão brilhante e a cozinha sempre em ordem.

Mas a tecnologia não está sendo desenvolvida para o mundo doméstico. O que guia os investimentos em pesquisas definitivamente não são os interesses da dona de casa. Se fossem, teríamos menos tevês 3D e mais aspiradores automáticos, menos celulares e mais máquinas que limpam banheiros.

Coloquemos o cientista/engenheiro/nerd para viver como uma verdadeira dona de casa por um mês e a revolução finalmente virá.

Li, certa vez, um alentado estudo acadêmico sobre o desenvolvimento dos eletrodomésticos. Começava revendo a história dessas máquinas: o aspirador de pó foi criado para resolver o problema de limpeza de grandes espaços comerciais, como hotéis. O freezer foi desenvolvido para atender a uma demanda do comércio. O micro-ondas, para ser usado em voos comerciais de longa distância. A lavadora de roupas era uma evolução oferecida para as lavanderias. O único aparelho pensado para resolver um problema doméstico foi o lava-louças. Que foi inventado por uma mulher.

Vamos à história dessa heroína, a quem a humanidade ainda não ofereceu o reconhecimento que ela merece. O nome dela era Josephine Cochran, era americana e inventou o lava-louças em 1886. O grito do Ipiranga de Josephine foi: "Se ninguém mais vai inventar uma máquina para lavar louças, eu mesma vou fazer isso." Para decepção de dona Josephine, só hotéis e grandes restaurantes compraram sua invenção. O curioso é que ela não era uma dona de casa que lavava louça três vezes por dia. Josephine era uma "do lar" abastada, que tinha empregados, mas fazia muitos jantares e festas e não se conformava com o tempo gasto para dar conta da louça suja.

Com o desaparecimento da empregada doméstica – que ainda anda por aí, mas tudo indica que irá se tornar raridade – a indústria começa a se mexer. Lançaram um aspirador em forma de prato que circula sozinho pela casa e também um sistema de sucção para ser instalado nos rodapés e manter o piso livre de pó. Não é nada, não é nada, já é um sinal de que estão começando a pensar em modos de facilitar a vida de quem tem de fazer aquelas tarefas repetitivas, mas necessárias.

Ainda faltam coisas a inventar. Duas delas, de extrema relevância: o vaso sanitário autolimpante, que higienize automaticamente o interior e o exterior da louça e da tampa. Quando a tecnologia estiver bem aperfeiçoada, poderemos levá-la também para as pias de banheiro e da cozinha. Aliás, dá para inventar uma pia que fica sempre sequinha? E a caixa mágica de passar roupa. O "mágico" é só um toque publicitário que já vou sugerindo. Jogamos a roupa lá dentro e ela sai esticadinha.

Em resumo, está na hora de o futuro chegar. Celular é ótimo e computador é muito útil – mas os Jetsons não tinham nada disso e viviam mais felizes que nós.

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