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Há modismos para no­­mes próprios, assim co­­mo para tudo mais que temos que ostentar pe­­la vida afora e que, de forma mais ou menos sutil, revela a que classe social pertencemos. Se­­gundo a Gazeta do Povo do último do­­mingo, os nomes mais usados no Brasil atualmente são Gabriel, Julia, Sofia e Mateus. Nenhuma novidade. Eles são populares há pelo menos uns 20 anos. Para uns prevalecerem outros têm que desaparecer. E aí vem a lista dos "ameaçados de extinção" e dos "extintos". Fo­­ram-se as Altivas e os Bonifácios e vieram as Claras e os Lucas. Desapareceram os Ricardos e as Marcias e vieram as Giovanas e os Enzos.

Os nomes das nossas avós e bisavós têm grandes chances de estarem na lista dos desaparecidos. Minhas avós Bernardina e Alta não encontrariam homônimas em 2010. Faça um teste, leitor, e recorde os prenomes da sua árvore genealógica. O Pedro, do meu avô paterno, voltou a existir depois de um período de ostracismo, mas o Aniceto do avô ma­­terno... Ah, esse sumiu por aqui, mas sobrevive impávido em Portugal. Portugal, aliás, é um mundo a parte quando se trata de batizar as crianças, um paraíso perdido para quem torce o nariz para invencionices e mo­­dismos. Eles são conservadores e menos criativos que nós. E isso não é de forma alguma uma crítica! Nós, que já batizamos muitas crianças de Richarlyson e de Crystal, não temos moral para censurar quem registra suas crianças como Cândida e Luís.

A mãe de um Gabriel, ouvida pela reportagem da Gazeta, contava que seu marido se chama Roberto e ela se espanta por não ver mais crianças com esse nome por aí. Não é só Roberto que su­­miu dos registros de nascimento, mas César, Edson, Ale­­xandre e até Fernando – quando os que exibem esses nomes na carteira de identidade, a maioria dos que conheço na faixa dos 40 anos, se forem, os nomes sumirão. E o que dizer de Olímpio, de Alfredo, Celso e Nelson? E seus pares, a Regina, a Vera, a Wilma e a Sô­­nia? Vão todos pelo mesmo ca­­minho. Será que nunca mais se­­remos apresentados a um jovem Adolfo, a uma simpática Adélia, a uma garotinha chamada Anita ou a um levado Leô­­nidas? Um historiador dos costumes poderia sentenciar: "Me diga teu nome e te direi em que década nasceste".

A moda dos "antiguinhos", como João e Clara, tem seu lado radical. Há quem vá mais fundo no túnel do tempo e desencave um Joaquim, um Bento e uma Lúcia. São os ponta de lança, os lançadores de moda. Geralmente também são os mais estudados e endinheirados. A onda se espalha pela classe média e depois se choca com a outra onda, que vem no sentido oposto.

Os brasileiros do outro lado da escala social, os menos estudados e endinheirados, são bons para inventar e não assimilam facilmente os nomes que seus patrões dão aos herdeiros. A não ser, é claro, que seja patrão de no­­vela. Aí eles fazem escola. Atri­­bui-se a personagens de no­­velas a proliferação de Camila e Yas­­mim, de Cauã e Matheo.

Talvez seja excesso de otimismo, mas quero crer que a era das grandes invenções está passando. Depois de duas décadas batizando os filhos com nome de santos e de anjos, tomara mesmo que os brasileiros estejam aprendendo a controlar a criatividade pagã e – valha-me São Ricardo – geralmente de mau gosto.

P.S.: Hoje, além de Sábado de Aleluia, é Dia de São Ricardo, que eu elejo o padroeiro dos portadores de nomes em extinção.

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