| Foto: Felipe Lima

Fato relevante pinçado do noticiário dos jornais estrangeiros: os jovens ingleses que fizeram quatro noites de quebra-quebra nas ruas de Londres e de outras cidades do país só pouparam livrarias. Isso mesmo, eles depredaram e saquearam o comércio, loja por loja, com exceção das bookshops. Em uma determinada rua do leste da capital todo o comércio foi atingido, menos a loja da rede de livrarias Waterstones. A onda de violência seguia um padrão perceptível, tanto é que um funcionário dessa rede teria dito (na verdade, tuitado) que as livrarias permaneceriam abertas enquanto o resto do comércio fechava porque "se eles roubarem alguns livros, podem aprender alguma coisa".

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Mas eles não roubaram livros.

Há um registro de livraria depredada em Londres. No início da semana, a Gay’s The Word, especializada em edições voltadas para gays e lésbicas, foi atacada e ovos foram quebrados sobre os livros que estavam na vitrine. Nenhum exemplar foi levado. De onde se depreende que se tratou de uma demonstração de intolerância que só confirma o caráter "analfabeto" dos agitadores.

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Não estou lamentando o desprezo às livrarias que salvou tantos livros, de forma alguma. É que o fato provoca algumas perguntas. Por que as livrarias foram poupadas? Que livro deveria ler um rapaz de 15 anos que sai às ruas altas horas da noite para incendiar prédios e saquear o comércio?

Um leitor muito otimista pode deduzir que a rapaziada inglesa não depredou livrarias por respeito aos livros. Mas alguém que respeita livros faz saques e depredações?

Outro leitor, sarcástico, mas ainda um pouco otimista, pode argumentar: a garotada londrina não pilhou livrarias porque já está na era do livro digital, que eles leem em aparelhos que roubaram na loja de eletrônicos.

A ironia é que em breve haverá nas prateleiras páginas e páginas registrando as arruaças deste agosto de 2011. Estarão ao lado de tantos títulos que analisam movimentos violentos de protesto ou coerção que envolveram, de forma mais direta, esta invenção maravilhosa do ser humano que são os livros. Há aqueles so­­­bre o frade italiano Sava­­­­na­­­rola, que fez arder a Fo­­­gueira das Vaidades para queimar objetos que considerava perigosos e que tirou à força dos florentinos, como livros, adereços femininos e até pinturas de Boticelli. E há páginas sobre os jovens nazistas que destruíram obras nas quais viam a "mancha" da cultura judaica. E os espanhóis que queimaram os registros astecas. E os militares chilenos que fizeram fogueira com livros malvistos pelo general Pinochet. A lista prossegue com muitos outros episódios em que os livros foram destruídos pela ignorância. No caso da Inglaterra de 2011, eles foram ignorados.

Por fim, que livro essa rapaziada deveria conhecer? Eu arriscaria O Apanhador no Campo do Centeio, do Salinger. Outras sugestões podem ser enviadas para esta colunista, que se compromete a dividir a informação com os leitores.

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