| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Dezembro é um mês histérico. E não pense, caro leitor, que ao iniciar o texto assim pretendo falar mal da 12.ª folha do calendário. O histerismo de dezembro é mágico, gira em torno de festas, de encerramentos e recomeços, da fé. Do consumismo também, é verdade. Ele é responsável por 50% do histerismo "dezembrino". Imagine dezembro sem compras. Restariam o Natal e o ano-novo, as provas finais para os estudantes, os balanços e conclusão de projetos para os profissionais. Já seria bastante, mas amenizava a correria e a conta do cartão de crédito.

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Comparando com os países do Hemisfério Norte, nosso dezembro é barra-pesada. O fim de ano aqui é mais concreto, se é que me expresso bem. Nosso ano letivo acaba em dezembro e isso atinge boa parte da população. São estudantes, professores e pais de alunos que veem seus trabalhos, seus prazos, acabarem em dezembro. Enquanto isso, lá no norte, tem uma semaninha de folga para o Natal e tudo recomeça em 2 de janeiro como se nada tivesse acontecido.

O verão, lá e aqui, compete com as festas no papel de "esquina" do ano. Nos países onde o inverno é rigoroso, as cidades param no verão para todos poderem tomar um solzinho em algum lugar. Com a parada, se faz uma quebra no calendário – existe o antes e o depois do verão. Para nós, o verão também tem influência na percepção do calendário, mas de forma mais sutil, já que vem no pacote Natal/ano-novo/carnaval. É um pacotaço em torno do qual se organiza parte da vida do país.

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Por tudo isso, dezembro é histérico. Porque é preciso encerrar o que precisa ser encerrado e preparar o que precisa ser iniciado. É preciso fazer matrícula, orçamentos, planos, balanços, reservas, pagamentos. É preciso fazer economia, que há um ano novo pela frente. Mas economia em dezembro? É preciso se preparar para perder peso, que perder peso é sempre resolução de ano-novo. Mas fechar a boca em dezembro?

Tem muitas luzes em dezembro, luzes coloridas e trêmulas, daquelas que nos deixam encantados e excitados. Também tem muitos prazos finais, encerramentos e balanços, que nos deixam ocupados. Tem festas e amigos secretos dia sim, dia não. Tem a possibilidade de um recomeço logo ali, que é algo muito simples (só uma mudança no calendário), mas que exerce uma grande pressão emocional sobre a maioria das pessoas. Tem o Natal dos cristãos, pobre Natal, esmagado no meio desse barulho todo. Uma festa espiritual que convida à meditação cercada por uma agitação que prejudica qualquer possibilidade de introspecção. Tem o Chanucá dos judeus, que pode até começar em novembro, mas que sempre termina em meio ao burburinho do último mês gregoriano.

Por tudo isso dezembro é lindo e histérico. Felizmente só acontece uma vez por ano.