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Diante da dor dos outros, o que fazer? Quanto mais gostamos da pessoa que sofre, mais difícil é dizer alguma coisa. Uma amiga cujo pai morreu recentemente me conta que o dia está sendo difícil. Logo cedo, ouvindo rádio, lembrou-se do pai e pensou em ligar para ele para comentar as notícias. Um segundo depois, deu-se conta de que não tem mais o pai para receber seu telefone. Cada pequeno lapso de consciência como esse traz em seguida uma nova morte, um novo luto. Como alguém que perdeu um braço ou uma perna, mas ainda sente o membro amputado.

Sofre ela, sofro eu. Por não saber o que dizer.

Meu filho chora porque o melhor amigo não vai mais estudar com ele. Acredita que nunca mais terá outro amigo, que vai ficar sozinho na escola. Sei que não é assim e sei também que é muito difícil para ele entender isso porque seus poucos anos de vida dão a cada experiência um valor absoluto, uma dimensão gigantesca. Ele pode acreditar em mim, no que eu lhe falo, mas não pode entender a situação da mesma forma como eu entendo.

Sofre ele, sofro eu. Por saber que as minhas palavras não terão o poder que eu gostaria que tivessem, por saber que ele precisa deste sofrimento e de outros para, com sorte, lá na frente, reagir com mais tranquilidade diante das intempéries.

Em alguns casos, não há o que dizer. Digo para minha amiga que entendo o que ela está passando, que aquele tipo de situação acontece com todo mundo que perde alguém. Que mais posso dizer? Que a dor vai ficar me­­nor um dia. Só não digo a ela o que não gosto que me digam: "Seja forte". Demonstrar que sofre, afinal, é sinal de fraqueza?

Em velórios e enterros, devido à obviedade da situação, é mais fácil dar o apoio que queremos dar. Talvez fiquemos de longe, deixando que nos vejam apenas, para saberem que estamos lá para apoiar. Prefiro me manter de boca fechada, porque não sei escolher as palavras. Todo mundo conhece alguém que, ao cumprimentar a viúva, deixou saiu um "parabéns" quando queria dizer "meus sentimentos". Pobres viúvas, que lidam ao mesmo tempo com suas dores, com as obrigações sociais e com os disparates de quem quer ajudá-las! Prova­­velmente elas também não sa­­bem o que responder.

É claro que nessa hora vale a intenção de ajudar, a presença carinhosa. É hora de encarar a impotência do que sofre e do que quer minimizar o sofrimento. Não dá para mexer os pauzinhos e resolver o problema. Ou desligar o telefone só depois de ter certeza de que consolou o amigo e que agora ele não sofre mais. Sofre e sofrerá, mas pelo menos sabe que não está sozinho.

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