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Uma das grandes invenções da humanidade, que demonstra que a espécie humana não é tão cabeça-dura quanto todo o resto leva a crer, é o cumprimento convencional. Refiro-me aos "parabéns", "felicidades", "meus pêsames". Já pensou que trabalheira seria pensar em algo novo para dizer a todo aniversariante ou parente enlutado que encontramos? As fórmulas prontas nos salvam nessas horas. Resta o problema do que dizer quando nos dirigimos a alguém muito próximo, a um amigo, por exemplo, e não queremos ser tão genéricos. Quando temos sentimentos fortes e não estamos apenas cumprindo com o dever social: aí faltam palavras. Sem entrar no drama dos velórios, em que aprendi a não inventar moda e me limitar a falar o menos possível – caso contrário será bola fora na certa –, ainda me bato com os aniversários. Para uma amiga que aniversaria por esses dias, tive um impulso grande de, no e-mail que estou escrevendo, desejar que ela se veja livre dos chatos. Seria algo mais ou menos assim: "Desejo, de coração, que você tenha muita saúde e se livre dos chatos". Não sei se ela entenderia que é um desejo muito sincero e que eu reservo para as pessoas que amo. Talvez no momento ela não esteja pensando muito neles, os chatos. Mas eu estou.

Acredito que com menos chatos cruzando nosso caminho, os dias seriam mais leves. Não me refiro aos chatos crônicos, aqueles que não nos surpreendem porque já sabemos que têm alguma característica que nos incomoda – geralmente é uma conversa que se repete ou uma insistência em piadas sem graça. Por isso fugimos deles e ponto final. Particularmente, sou boa nisso.

Mais difíceis são aqueles que se transformam em chatos esporadicamente porque decidiram contar uma história interminável ou dar detalhes de algo sobre o que você não quer nem saber, quanto menos entrar nas minúcias. Talvez a minha implicância tenha a ver com a falta de tempo: quando o tempo é curto para se fazer o que é preciso, a impaciência aumenta e qualquer um que entrar no seu radar pode ser visto como um chato.

Aliás, tempo é outra coisa bacana para se desejar nos votos de aniversário. O problema é que tempo não é algo que se possa aumentar. Não é a toa que o "tamanho" do tempo é a grande questão dos físicos, astrônomos, filósofos e de qualquer ser humano que já tenha se dado conta de que vai morrer um dia.

Como não posso desejar tempo, desejaria "sabedoria para se concentrar nas coisas realmente essenciais". Ficou bonito, não? Talvez um pouco pomposo, admito. Também posso desejar saúde, para que o fim da vida não chegue muito rápido. Tudo o mais está incluído em "coisas realmente essenciais" e não preciso citá-las. Para não ser chata...

Então, a mensagem de aniversário ficaria assim: "Desejo, de coração, que você tenha muita saúde, sabedoria para se concentrar nas coisas realmente essências e que se livre dos chatos".

Acho que minha amiga vai gostar da mensagem.

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