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Entre as aberrações que o ser humano pode cometer talvez a mais maléfica seja julgar-se melhor que os outros. Os ditadores se julgam melhor que o resto do mundo e por isso se permitem decidir o destino de milhões.

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Os ditadores estão por todo lugar: à frente de governos, de empresas, de escolas, de grupos religiosos, de famílias. Todos eles, sem exceção, consideram-se especiais. São mais sábios, mais inteligentes, mais santos. A certa altura, convencem-se de que têm uma missão a cumprir, de que devem conduzir outros humanos a um determinado destino que será melhor para todos. O messianismo dá segurança ao ditador e, em alguns casos, legitima seu poder aos olhos dos comandados.

Em outros casos, o ditador não vê nenhuma missão em comandar; só quer mesmo encher os próprios bolsos, e os dos filhos e genros e netos. Mas qual o discurso que ele usa para se justificar? Está cuidando de seu povo. E por que ele se permite ser tão egoísta e roubar de todos em favor próprio? Porque, lá no fundo, está convencido que todos são inferiores a ele.

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Não sei dizer por que, mas prestei atenção nos pés dos egípcios que protestavam contra Hosni Mubarak na Praça Tahrir. Pelos chinelos, sapatos e tênis que vi, diria que havia muita gente simples naquela praça. Fiquei melancólica ao ver aqueles pés mal calçados e aqueles rostos ansiosos. Dá para deduzir que são pessoas que levam uma vida difícil.

Tem um ditador por trás daquela cena. Sempre tem. Um único ser humano que se permite jogar com a vida de milhões. De tripudiar. Porque ele se acha melhor, especial. E como somos frágeis, manipuláveis! Um louco, um único déspota sem freios, consegue estragar a vida de centenas, milhares ou milhões de pessoas. Dá raiva da nossa própria fragilidade. A História é pontilhada por eles, os déspotas malditos e as milhões de vidas desperdiçadas que produzem.

Foi-se Mubarak, um ditador a menos no mundo, pelo menos por enquanto. O infame Mubarak e seu infame cabelo tingido tinham que ir embora, assim como o não menos infame jogo de poder e ganância das potências que interferiram na vida do Egito desde o fim do século 19. Aos egípcios, boa sorte. Livrar-se de um ditador não é pouca coisa.