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1.

CARREGANDO :)

De cada palavra meu filho corta uma sílaba.

Comunica-se em um idioma em ruínas.

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2.Aos 3 anos, ele é eterno. Começará a morrer quando aprender as horas.

3.

Pergunto de que cor ele é.

– Marrom – ele me responde, embora seja branco como o leite.

– E de que cor sou eu?

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– Azul-papai – ele diz, apesar de minha cor de cuia queimada.

Antônio conhece todas as cores, mas opera uma paleta imaginária.

4.

Toda vez que vê um caminhão, pergunta o que ele carrega.

E eu então invento: anjos, nuvens, morcegos...

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5.

Enquanto sou fotografado, ele me olha.

Será que vai se lembrar desta cena daqui a 20 anos, quando encontrar estas fotos?

6.

No parque, pergunta o que é aquela construção onde eles entraram.

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– Um palácio – diz a mãe dele.

– Então o rei sou eu?

7.

Na Páscoa, pintamos patinhas de coelho saindo da janela da sala, no primeiro andar, e acabando num ninho de ovos.

Antônio olha tudo e pergunta:

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– Coelho voa?

8.

Saindo do banho, Antônio abraça a mãe e diz:

– Mãe gostosa.

E completa:

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– Você é macia.

9.

– Mãe, comi tanto papá que minha barriga quer quebrar.

10.

Ele abaixa a calça e mostra o pipi ereto:

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– Olhem, ele está fazendo careta.

11.

Molhando o pincel numa poça na calçada, Antônio diz estar pintando a parede na cor da água.

12.

Risca o livro impresso em papel bíblia, mostrando-o, todo orgulhoso:

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– Eu também sabe escrever, pai.

13.

– Cuidado! Estes cachorros são brabos – eu aviso.

– Não são brabos não, pai. Eles são é felizes.

14.

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Quando não aceito carregá-lo, pergunta:

– Ei, seu colo parou de funcionar?

15.

Ele disca um número, depois começa a rugir muito alto no telefone.

– O que está fazendo?

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– Ligando pro leão, ué.

16.

Ainda sem saber definir seus estados de alma, quando se entristece diz que está muito malvado.

17.

Ele me desenhou no Dia dos Pais, colocando o desenho debaixo da porta do escritório. Daí cho­­rou porque queria o presente de volta.

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18.

– Você se sujou todo, Antônio. Que feio!

– Pare com isso, pai, eu sou é lindo!

19.

– Que foi isso? – pergunto.

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– Nada, só o meu bumbum dizendo pum.

20.

Ele diz, chegando ao cabo e à cápsula de sementes:

– A maçã também tem esqueleto.

21.

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Perdi meu pai na primeira infância. E agora meu filho declara:

– Eu já fui o seu pai.

22.

Ao ver as nuvens cinzas, diz o menino:

– O céu está caindo.

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23.

Dormindo ao lado de meu filho, sinto que o sono dele tem muito mais raiz.

24.

Apontando a lua minguante, ele fala:

– Olha, a lua está quebrada.

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25.

– Você deve guardar este segredo – digo.

E ele questiona:

– Onde, aqui dentro da boca?

26.

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Antônio se aproxima e diz:

– Vou me casar com a Mel.

(Mel é a nossa cachorrinha.)

– Por que você quer se casar com ela?

– Pra ter alguém pra dançar.

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27.

– A sua mão, pai, é uma aranha. A mão da mãe é outra.

E daí Antônio junta as nossas mãos, dizendo:

– Agora, aranhas, se apaixonem.

28.

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– Quando eu for criança igual a você – digo a meu filho –, talvez eu aprenda a não sofrer.