Sou do tempo em que o tempo era diferente. Quando o curitibano ainda não era um cidadão tão desconfiado, quando todo mundo se conhecia, se cumprimentava e se respeitava. A juventude estudava, jogava sua bola nas horas de folga e não praticava vandalismos. A polícia era movimentada pelos roubos em galinheiros e varais; um arrombamento era comentado por semanas; assassinatos e suicídios eram assuntos que varavam anos na boca do povo.
A atualidade assusta. A falada educação de berço foi ao brejo, e a cortesia é uma atitude riscada do vocabulário. O vandalismo está estampado pelos muros, paredes das casas e prédios, emporcalhados por grafismos dignos da cultura da Idade da Pedra. Veículos usados no transporte coletivo mostram em suas janelas os vidros riscados pelas hordas transportadas em dias de jogos de futebol. Hordas que chegaram ao pináculo da selvageria na partida do Atlético e Vasco da Gama, no último dia 8 em Joinville.
Sou do tempo em que Curitiba era considerada pela sua limpeza. Os estádios de futebol não precisavam de alambrados e fossos para separar as torcidas do campo onde se realizavam as partidas; a assistência era composta de torcedores elegantemente trajados e de comportamento justo. Não existiam torcidas organizadas as tais de hoje em dia que não passam de uma cambada de insanos raivosos, a bestialidade irrigada a drogas e ao conluio que as maltas produzem. Tempos ruins para todos nós.
Tempo de festas. Dia 19 de Dezembro é comemorada a Emancipação Política do Paraná; esta data sempre foi lembrada com regozijo, principalmente por parte do governo. Entretanto, neste ano passou em branco o dia 19, quando devia ser lembrado que estaria ocorrendo o 160.º ano da instalação do nosso estado no ano de 1853.
Estamos em cima dos festejos natalinos, que em nada se comparam com os Natais de outros tempos. A exultação da ceia familiar com a distribuição dos presentes, recebidos sempre com alegria por mais simples que fossem. Os católicos tinham a famosa Missa do Galo, rezada à meia-noite do dia 24 nas igrejas, sempre com a apresentação do presépio para lembrar o nascimento de Cristo. Atualmente, a Missa do Galo está abolida, como prevenção da possibilidade de assaltos contra os fiéis no retorno às suas casas pela madrugada. Nem Cristo salvou essa cerimônia em sua honra.
Sou do tempo em que Curitiba era considerada uma das cidades mais limpas do país; do tempo em que ser educado e honesto não era um mérito pessoal e sim uma virtude hereditária; quando qualquer ato de vandalismo, por menor que fosse, era abominado e seus autores estariam apontados como indivíduos marginais ao bom convívio. Sou do tempo de uma Curitiba diferente.
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